CÓLICA E IRRITAÇÃO

Bastava o desconforto físico para encerrar minha disposição. Tenho dor nas pernas, inchaço na barriga, e a cabeça a mil. Mas, além desses sintomas, cercam-me a ansiedade, a tristeza e uma sensibilidade fora do comum.

Não sou uma pessoa fácil, não faço tipo, nem sou doce, mas consigo interagir, minimamente, com o meio nos outros dias do mês. Mas hoje, especialmente hoje, as vozes me incomodam. A coisa é tão séria, que algumas pessoas não precisam se dirigir a mim, elas existem, e isso basta. Às vezes tenho vontade de chorar só em vê-las. Ao se aproximarem, supondo o que está por vir, já me preparo. Penso que Deus, ao criá-las, deu um cochilo na hora do acabamento e deu no que deu.

Nesses dias, um simples “bom dia” me dá vontade de responder: “pra quem?” ou “por que?”. É esse o período crítico em que julgo as pessoas ainda mais idiotas do que me parecem nos dias “normais”.

Meu Deus, eu preciso me tratar!

Tenho a sensação de estar fora dos padrões, não consigo rir à toa, como os outros; e não vejo graça em qualquer coisa pra satisfazer o narrador. Não sei fingir que achei engraçado. Se o fizer, sei que não convencerei, por isso prefiro nem tentar.

Na ansiedade de se comunicar, as pessoas falam qualquer besteira e eu não gosto disso. Parece-lhes que o silêncio é sinal de algo errado. Fazem-me falta os cérebros pensantes, as conversas inteligentes. Não quero ser radical, mas é muito difícil tolerar a imbecilidade de alguns. Há umas infantilidades diárias que se repetem sempre, e fico desesperada porque sei que nunca vão acabar.

Com muito esforço eu consigo erguer um pouco a sobrancelha ou rir com um cantinho da boca para algumas coisas que me chegam. Também não posso ignorar todo mundo. E às vezes faço uma cara de quem não está a fim, mas tem umas pessoas que não entendem ou fazem mesmo pra me perseguir.

Soma-se ao meu nível de tolerância (que é zero) um sentimento de rejeição, e isso me faz imaginar que esse dia não vai acabar nunca. E pra encerrar minha lista, uma bruta solidão me faz acreditar na minha incapacidade de conquistar alguém.

Mas eu sou do bem, apesar de hoje. É sério, acreditem! Quem me conhece sabe. As pessoas não merecem meu julgamento. Eu é que estou infeliz. E distante do que precisam que eu seja. Meu coração parece querer se fechar para o mundo, tenho necessidade de isolamento.

Felizmente isso dura somente três dias. Torço para que todos sobrevivam ao meu mal humor.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 01/02/2013
Reeditado em 14/08/2013
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