A RUA DA FEIRA
 
     Eu morava na rua da feira. Desde cedo, éramos acordados com o movimento dos barraqueiros armando suas barracas para iniciar mais um dia de trabalho.
     Os variados odores invadiam minha casa: o cheiro adocicado das frutas, o perfume das flores e também os menos agradáveis provenientes dos frangos, pernis de porco e peixes expostos à venda, sem refrigeração.
       A barraca que vendia frango e ovos ficava a dois metros da minha janela e, quando nos mudamos para lá, eu brincava com meu filho que tinha dez anos, dizendo: agora basta chegar na janela e pedir "moço, joga umas sobrecoxas e uns ovos pra cá!" 
       Eu sempre comprava frango e peixe na feira, embora dissessem que eles poderiam fazer mal devido à procedência desconhecida, sem o carimbo da fiscalização sanitária. Nunca tivemos problema algum de saúde causado pelos frangos da feira e garanto que eram bem mais saborosos do que os congelados que compramos nos supermercados.
     Havia ainda a barraca dos salgados que sempre visitava para comprar os salgadinhos encomendados pelo meu filho que adora comê-los: pastéis, quibes, bolinho de aipim com carne-seca...
      Lembrei-me disso, hoje, porque vi passando, bem embaixo da minha janela, um daqueles carrinhos barulhentos - meu filho, quando pequeno, chamava-os de "carrinho de rolinha de limã", em vez de rolimã - que fazem o transporte da mercadoria para os fregueses que não conseguem carregar suas compras. Eu levava meu próprio carrinho de feira que há muito já foi para o lixo.
       Há uma feira aqui perto da minha casa, mas há anos que não a frequento; tudo foi substituído pela facilidade e frieza dos supermercados.
      Às vezes, sentimos certa nostalgia pelos velhos hábitos que a modernidade está descartando...

RJ, 01/02/13
(não aceito duetos, por favor)