SAUDADE...O TEMPO.

Paulinho, já escrevi muita coisa sobre saudade, essa possibilidade da volta em memória é cruel e prazerosa, esse eterno pêndulo da vida, o bem e o mal, alegrias e tristezas. Confesso que visito pouco o passado, seria resistência ao sofrimento da instigante saudade? Creio que diante da ausência de alternativas é de ordem natural. Nada se pode contra o único senhor e testemunha absoluta de tudo, o tempo. Talvez por isso se tenha cunhado o jargão, e isso admito firmemente; "tempo, o senhor da razão". E a razão é o que se explica de maneira cabal, induvidosa, sem manchas e nódoas das cinzas que enegrecem a clareza. Com a força da razão estamos sentados na arquicadeira da lógica, fria, lisa, mas formal , impassível à indagação. O tempo a tudo assistiu, como surgiu a vida, o que sempre se discutirá e a nada se chegará, como ocorreram todas as transformações do universo. E a saudade é filha do tempo, e como filha é frágil, impúbere, inocente, talvez por isso não a movimente muito, por vezes ocorre, e sempre faz sofrer, os bons momentos se dissipam com mais rapidez do que os encharcados no Vale de Lágrimas. Fico assim no "agora", uma covardia confortável, expectante que o futuro não seja algoz. Te mando uma de minhas considerações que envolve saudade, são muitas, pincei esta. Abr. Celso

UM MILHÃO DE ANOS....

Olhar para o tempo, nele se desfazer, aos poucos......sem sentir..

Carinhosamente ele nos leva em seus braços, sem alarde....

Linearmente prosseguimos, envolvidos em vidas, muitas...

Vidas vividas em uma vida que a própria vida não mais lembra....UM MILHÃO DE ANOS..

Um milhão de vidas em um milhão de anos vividos, sente-se, surpreendentemente vividos, avassalador o tempo, dominante, consome, assume déspota o destino, submete silenciosamente, como um mágico, engana....engolfa em ilusão, antropofágico e sedutor..

Há submissão reverencial impositiva, reconhecimento, respeito ao irmão tempo, contra o qual nada se pode opor ao canto de sua vitória ,caminha ao lado, quieto, visceral, iconográfico, imemorial, surrealista, compulsivo, soberbo em seu passo largo, gigantesco...sem medidas..

Faz o esquecimento esquecer que ele não tropeça, não claudica, segue altivo, sem freios....

Somente ele conhece a estrada, de alegrias ou permeada de tristezas, vidas chegadas e despedidas, festas em profusão, em cadeia ininterrupta, conectadas em seguimentos sem cisões, cimentadas no sorriso da felicidade achada de horizontes aumentados pelo seu traçado, tempo, UM MILHÃO DE ANOS....

Testemunha dos vigores, destemores de juventudes múltiplas, aportando à firmeza das convicções definitivas, UM MILHÃO DE ANOS...

PARTIDAS....INESPERADAS...TODAS..

Nelas estão as dores, se vão os amores, exauridos, gastos, esvaídos de emoções, mortos de vaidades, sucumbidos do desejo de estarem acima do bem e do mal, ensandecidos...pensados além do humano.

UM MILHÃO DE ANOS....de sofrimentos que a saudade não deixa restarem mortos com os mortos queridos, que partiram.....

Não há sofrimento sem luta. Nada remove a resistência ao sofrimento que persiste. Viver é sonhar, a quimera possível de caminhar sem nó na garganta, sem violar o abraço do tempo na incerteza de um dia apertar a mão da felicidade definitiva..... com permanência, UM MILHÃO DE ANOS...

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 31/01/2013
Reeditado em 03/07/2013
Código do texto: T4115593
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