BOATE KISS - Um lugar pequeno demais para tantas CULPAS.

A tragédia em Santa Maria na madrugada do dia 27 de janeiro, resultando na morte de mais de 200 jovens, comoveu o Brasil e o mundo.Tantas vidas foram ceifadas, tantas histórias deixadas, tantas e tantas coisas que ficarão por si só inacabadas e tantas e tantas culpas que tentarão ser justificadas.
Mas como se justificar tamanhas CULPAS????
Muitos que conseguiram sair aparentemente ilesos daquela boate tentaram salvar mais vidas e na consciência de muitos ainda fica o inconformismo de não ter podido salvar mais pessoas daquela fumaça tóxica. A alegria de estar vivo não foi maior que a culpa e o sofrimento em não ter deixado mais pessoas vivas neste mundo. Fizeram o que humanamente se podia fazer e fizeram com muita maestria e heroísmo.
Restou a culpa de muitos voluntários, dos bombeiros, dos pais, dos amigos em não ter a capacidade de se poder fazer o impossível por aquelas pessoas.
Ficou  somente o triste "SE"...se eu tivesse feito isto, se tivesse feito aquilo, quem sabe a história poderia ter tido um outro final.
Não tem como apagar os números desta tragédia, de voltar ao tempo e de se fazer algo diferente por  aquela madrugada trágica.
A Boate Kiss virou um lugar pequeno demais para tantas culpas...
Do fatídico dar-se-ia para enumerar diversas culpas, desde aquela de foro íntimo quanto aquela que anseia por responsabilidades nas esferas civis e penais, digo CULPA, não dolo.
O sensacionalismo midiático faz aparecer diversas ESTRELINHAS que aproveitam a oportunidade, em que todos os holofontes estão voltados para sí, para tomarem algumas atitudes desastradas e sobretudo irresponsáveis. A imprensa pressiona e como forma de se dar uma satisfação à sociedade se recorrem à prisões.
 Para que prisões???? E por quê???? Que risco aquelas pessoas podem representar para à sociedade?
A princípio parece existir muitas CULPAS que serão devidamente esclarecidas...
Talvez culpa da banda Gurizada Fandangueira cujo  vocalista  utilizou um sinalizador que em contato com o teto desencadeou uma série de elementos que vieram à tona com o fogo; como falhas na iluminação de emergência, espuma inadequada para recobrir a danceteria, além de extintores irregulares.
Os sinalizadores são para locais abertos, e era sabido que a banda fazia uso do mesmo em seus shows...a função dela era alegrar a festa, deixá-la mais bonita e ao que tudo indica não pretendiam e muitos menos aceitaram o risco da produção do resultado incêndio, somente agiram com negligência quanto ao uso naquele local.
As medidas de contenção do fogo foram tomadas mas infelizmente foram ineficazes fazendo com que a fumaça tóxica se espalhasse rapidamente. O que se questiona processualmente é se o caso se enquadra no instituto da “Culpa Consciente” ou do “Dolo Eventual”.
Há muitas culpas...
Talvez culpa dos seguranças da boate em impedir a saída das pessoas sustentando que as mesmas deveriam pagar a comanda.
Talvez  culpa da Prefeitura Municipal de Santa Maria, por conta do Alvará de Funcionamento que já estava vencido e mesmo assim a boate estava funcionando  normalmente.
Talvez culpa do Corpo de Bombeiro em não vistoriar adequadamente a  referida boate e autorizar o funcionamento.
Talvez culpa dos organizadores do evento, que não observaram todas as medidas de segurança.
Talvez a  culpa dos donos da Boate pela omissão de tantas normas de segurança e como medida cautelatória tiveram seus bens bloqueados pela justiça.
Talvez  culpa até do próprio Ministério Público que na ocasião do TAC - Termo de Ajustamento de Conduta, determinou a realização  de uma obra antirruído com instalação de espuma como forma de revestimento acústico sendo devidamente inspecionada e autorizada.
Talvez culpa dos engenheiros que fizeram a planta do estabelecimento e que ainda permitiu que tal material antirruído de má qualidade fosse instalado naquela boate.
Há muitos TALVEZ e muitas CULPAS misturados em forma de sofrimento.
Talvez Schopenhauer tenha razão em dizer que "a maior parte do nosso sofrimento está no retrospecto ou na antecipação, já que a dor, por si só, é breve; muito maior, por exemplo, do que o sofrimento da morte em si, é o sofrimento causado por pensar nela".
 O fato é que Santa Maria ficou órfã, que chorando a morte de tantos filhos, da dor de tantos pais, do sofrimento de tantas famílias, ainda busca ombros para se consolar e chorar sem Culpa os ainda Talvez da volta de seus filhos.
 
 
 
Renata Rodrigues
Enviado por Renata Rodrigues em 31/01/2013
Reeditado em 10/03/2013
Código do texto: T4115571
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