REMANDO NA PAMPULHA

Filtros solares não haviam ainda, colocar uma plasta de pomada Minâncora na cara... nem morta! Preferia suportar as bolhas no nariz. Nada me impedia de jogar bola, eu era um piolho de quadra e lambari de piscina. Contava com um grupo fiel de colegas, estávamos sempre juntas para isso.

Veio a sugestão de treinarmos remo. A Federação Mineira tentava ressuscitar este esporte que falecera com o rompimento da barragem na lagoa da Pampulha. Instalou os equipamentos em um galpão na Avenida Otacílio Negrão de Lima, que a circunda. Requisitavam equipes femininas para a modalidade oito com timoneiro. Fomos.

O treinamento começou no seco, físico e técnico, até que chegou o grande dia de remarmos. O barco era enorme e confeccionado numa época em que não contávamos com as levíssimas fibras de vidro atuais. O técnico, simplesmente deu a ordem: - Levantem o barco!

Meu santo, ele era muito... muito... pesado! Atravessamos o galpão e alcançamos o corredor de entrada... - Gente, este corredor cresceu?

Não era menor? Vencemos a metade do percurso até a lagoa e já pedíamos por misericórdia, clemência.

Chegamos na avenida e veio a encrenca. O trânsito contínuo não nos deixava atravessar. As pernas começaram a bambear. Nosso mestre educadamente não conseguia parar os carros.

Nesta agonia a colega da frente, recomeçou a caminhar projetando a proa para cima do asfalto e berrou com toda potência de voz que a natureza lhe bem dotou: - Pára esta p........ e deixa a gente passar, seus f..............!

Foi o que resolveu o assunto para as duas pistas de uma vez só, porém tarde. Outra companheira não aguentou mais, largou o barco e fez-se um efeito dominó. Fomos ao chão interrompendo definitivamente o trânsito.

Seguiu-se uma avalanche de buzinas e palavrões, inclusive do técnico. Que se danassem todos, precisávamos tomar fôlego, permitir que o sangue circulasse pelas mãos novamente.

Em fim, recomeçamos a tarefa até chegar à lagoa. Em pouco tempo já coordenávamos o ritmo e os remos abordaram a água no mesmo momento. Foi aí que o barco deixou de ser um elefante, transformou-se num golfinho cortando a água em velocidade fazendo marolas... uma sensação MARAVILHOSA!

Para retornar, de novo o suplício da avenida. Esta falta de estrutura, a dificuldade de condução para chegar ao local num horário em que o sol ainda não tinha feito o dia, e outros fatores mais, nos desanimaram de continuar. Uma pena!

Tomara que as condições hoje tenham melhorado... bem, pelo menos agora temos filtro solar.