O Furacão

Um temporal inclemente, com chuvas torrenciais e ventos a cento e trinta quilómetros horários, tudo varreu naquele sábado de madrugada (19.01. 2013), árvores arrancadas, postes de alta tensão caídos, fios de telefones espalhados pelo chão, numa destruição pouco usual em terras lusitanas.

Nove horas da manhã. Toca o telemóvel.

- Estou!...- do outro lado, a voz chorosa da Dona Sina (A senhora que me trata dos animais), articulava com dificuldade.

- Estou...estou dona Sina?.. Fale devagar, para eu a entender.

- Ai, Sr. António… Que desgraça, que desgraça…

- O que foi? Morreu alguém?

- Não senhor, não morreu ninguém. Um furacão passou por aqui e deitou-lhe os pinheiros abaixo, partindo o muro a toda a volta e alguns caíram em cima da sua casa, partindo o telhado todo e um outro muito gran…

Subitamente caiu a chamada. O telefone fixo também não funcionava. Tentei um e-mail, e também a internet se foi.

Eu encontrava-me a recuperar de uma pequena cirurgia, mas perante a catástrofe, esqueci os cuidados médicos e ala rumo ao problema.

Após duzentos e vinte quilómetros e muitas palavras de descontracção, para evitar que a minha mulher sofresse por antecipação, cá chegamos.

O caos era maior do que eu imaginava. O pomar de laranjeiras junto à orla da casa estava destruído, pinheiros de grande porte, em cima do telhado, telhas e vigamento feito em mil pedaços. A estufa que servia de arrumos e garagem, espalmada no meio do chão. Enfim, uma destruição difícil de descrever, mesmo descontando algum exagero da dona Sina.

Era Domingo por volta do meio-dia quando chegámos. O meu coração sofreu um baque perante a imagem presente, mas logo me recompus ao ver os olhos da minha esposa a avermelharem-se e quase a chorarem.

- Não te enerves que não vale a pena. Ninguém se aleijou o que é o mais importante. Agora é reparar o que se estragou, porque a vida continua. – Encorajo assim a minha companheira, como se nadasse-mos em dinheiro.

Na segunda-feira já o ruido de moto-serras entoava no meu terreno, limpando de ramos e troncos o telhado da casa e possibilitando com um plástico amenizar a quantidade de goteiras que por toda a casa caía. Continuava-mos sem comunicações e a energia eléctrica, aparecia a espaços, permitindo no entanto que os alimentos das arcas congeladoras não se estragassem. O tempo continuava húmido e frio, e nós sem poder utilizar o aquecimento central por falta de energia.

Passado uma semana já o aspecto é outro, com o muro quase pronto e os pedreiros com o telhado quase coberto, pese o facto de ainda haver muitos destroços a limpar

- Então Sr. António, isto já nem parece o mesmo. - Comenta o meu vizinho Avelino.

- Pois não! Mas ainda falta arrumar todos esses rolos e destroços. Mas o pior já lá vai – Concordo.

- Sr. António! faltam duas telhas para acabar. – Fala de cima do telhado, o Maia, o pedreiro.

- Agora com essa é que você me tramou, aonde é que eu vou descobrir telhas dessas? – Digo à laia de lamento, pela dificuldade que tive em arranjar aquele modelo de telhas. – É que o Zé Estragado vendeu-me quantas lá tinha.

- Talvez eu o desenrasque. – Diz o meu vizinho. – Mas ó Maia que raio de pedreiros são vocês, que por causa de duas telhas não acabam o trabalho.

- E o que é que queria que nós fizéssemos, Sr. Avelino? – Interroga o Maia.

- Ora, ora, isso nem parece conversa de um profissional. COLOCAVAM-NAS MAIS RARAS!!!

O Maia sorriu para mim com um ar benevolente.

Eu incrédulo, não teci qualquer comentário. Pois à vista de tanta sapiência, o melhor é ficar calado.

António Correia. Janeiro de 2013

Lorde
Enviado por Lorde em 30/01/2013
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