“Jeitinho brasileiro”

“Jeitinho brasileiro”

O brasileiro, o seu jeitinho, o sufixo diminutivo e uma falsa intimidade fabricada. Nas raízes do Brasil estão as explicações para esse desvio de conduta. Sérgio Buarque, em sua “Teoria do homem cordial”, expõe com muita propriedade esse “cordis” brasileiro, mostra as intenções por trás de certos discursos carinhosos e a causa que essa atitude pode gerar.

Esse “jeitinho brasileiro” começa na família, quando a mãe cria seu filho com mimos e carinhos excessivos, protegendo-o demasiadamente e educando-o para exacerbar seu cordis (coração). Esse “jeitinho” abomina formalidades, força a aproximação e uma amizade, tudo para estreitar as relações pessoais, muitas vezes, com um objetivo velado e ignóbil. Cumprimentos usando o diminutivo, elogios hiperbólicos e uma amizade brutalmente sendo forçada; o homem cordial brasileiro é premeditado!

O brasileiro precisa de ser amado, de ser notado, sua busca por tal necessidade desvia regras de conduta e contribui para a desordem da sociedade. A cordialidade, muitas vezes, fere os trâmites e provoca reações no porvir. Com carinho e com jeitinho, o brasileiro vai atropelando a democracia, facilitando seu egoísmo e contribuindo para um enfarte fulminante da cidadania.

Para alcançar seus objetivos o brasileiro usa o coração, demonstra amabilidade e uma afeição produzida nos vieses do interesse. Com carinho, oferece o carnê e o dinheiro a um conhecido, que no momento, é um amigo de infância, mas a necessidade de burlar a cidadania e de atropelar o respeito, usa a cortesia para transpor e chegar ao seu objetivo, rapidamente. Fura a fila, com carinho! Elogia e é elogiado e um brinde ao “jeitinho brasileiro”. Pede favores - o favor é uma instituição - com afeto e compromete o desenvolvimento do país. Troca sua opinião pela facilidade imediata e ocasiona o caos no futuro. Compra a facilidade com seu “jeitinho brasileiro”, entra e sai com apadrinhamentos, consegue com quem indica e no final das contas, condena o seu reflexo, por usar do mesmo artifício para obter suas metas.

Gestos ensaiados, sorrisos fabricados e o cordis acima de tudo; o “jeitinho brasileiro” assassina a ordem, as regras, as normas e depois com “jeitinho”, quer condenar o “jeitinho” que está arraigado no âmago visceral do brasileiro.

Mário Paternostro