A MAQUIAGEM
A MAQUIAGEM
Quando nasci, a luz forte e o ar que invadiram meus pulmões me fizeram chorar. Estava nua, pele pura. Enfrentei o mundo de cara limpa e coração aberto.
Os anos passaram e aprendi que precisava me vestir; lavar meu corpo; criar um cheiro que me identificasse. Passei a pintar meu rosto. Hoje já nem lembro como era. Perdi-me em meio aos artifícios. Quando olho no espelho não me encontro e o que vejo esta solto, descolado, sem raiz. A qualquer momento pode desmoronar. Para que isso não aconteça apresso-me em colocar mais maquiagem, aparo as arestas e sigo em frente. Vou sem saber aonde chegar. Muitas vezes olho para trás, tento voltar, mas não sei a quem devo procurar. Como o palhaço, também pinto o rosto para viver. A maquiagem vai ficando pesada, já não consigo tirar.
Sorrio. Descubro que o mundo esta cheio de “ilusionistas” nada é o que parece ser. Vão todos sustentando suas ilusões ao custo de camadas e camadas de maquiagem.
Estou novamente chorando como quando nasci, porém agora estou feliz. Minha pele descascou. Estou nua. Dói muito. Sinto frio. Mas agora voltei a me ver. A vida invade meu ser. Solto uma gargalhada, daquelas vinda de dentro; com força. Meu corpo vibra. Corro para o espelho. Sou eu, apenas cresci. Existo. Sem vergolha me beijo. Saio, agora sei onde estou indo. Não preciso mais olhar para trás.
IAKISSODARA CAPIBARIBE.