Angenor

Dia desses, o amigo Jorge Cortás Sader Filho, um dos mais completos e talentosos escritores desse recanto, disse que o Nilsson "faz uma falta desgraçada". Entendi esse incentivo como intimação e me animei a desaposentar o heterônimo por uma boa causa: tentar com meus rabiscos fazer eco a uma crônica de altíssimo nível que ele escreveu "Arte: poetas". 

O Sr. Angenor de Oliveira foi o modesto fundador de um bloco de favela e para ele escolheu a combinação mais improvável e acertada de cores. Esse bloco com o passar do tempo se tornou uma Escola de Samba de Primeira, Segunda e Terça.

Angenor foi servente de obra e para se proteger do cimento que caia usava um chapéu-côco, daí o apelido com que é conhecido. Lavador de carros, frentista de posto, por muito pouco não mergulhou fundo no anonimato até que o jornalista Sergio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, o redescobriu.

Graças a alguém que tinha esse mais que auspicioso apelido, conhecemos algumas das mais belas frases da música popular Brasileira:

" ...fim da tempestade o sol nascerá. Finda esta saudade hei de ter outro alguém para amar..."

" ...ouça-me bem, amor. Preste atenção: o mundo é um moinho e vai triturar teus sonhos, tão mesquinho. Vai reduzir as ilusões a pó..."  Notem a sutileza: um aparente erro de concordância revela um preciso conhecimento da língua.


"...não quero mais amar a ninguém, não fui feliz, o destino não quis. O meu primeiro amor morreu como a flor ainda em botão, deixando espinhos que dilaceram meu coração..."

e a suprema preciosidade, muito bem lembrada pelo Jorge:

" ...queixo-me às rosas, mas que bobagem as rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti..."

Pode? 

Nilsson, digo, Leo



Leonilsson
Enviado por Leonilsson em 29/01/2013
Reeditado em 30/01/2013
Código do texto: T4112916
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