Ela veio



 
            Todos os dias acontecem tragédias no mundo.  E tragédias bem “cabeludas”.  Não, não vou contar novamente sobre a tragédia da cidade gaúcha de Santa Maria, fato que já lamentamos profundamente.   O brasileiro, trabalhador, cansado e pobre, já não suportaria mais ouvir relatos de tantas desgraças.
            Quero imaginar  o que seria a minha morte e que aconteceria de repente, com meu coração falhando, tudo agravado por uma anemia decorrente de uma alimentação pobre de carne animal.
            Estou rodeado por várias pessoas que me examinam apressadamente, todos assustados, pálidos, como se estivessem anêmicos como eu.  Posso estar deitado numa rua movimentada de Botafogo, ou mesmo numa cama de hospital, não importa.  Noto um médico, com grossos óculos no rosto e que me parece o Antonio Carlos, meu amigo de poesias na internet. Vejo que ele diz que vai chamar um médico cardiologista, pois ele é pediatra.  Seguro na mão dele e não deixo que ele faça  isso. – Não, Antonio Carlos, você sabe que não passo de um garoto com 13 anos no máximo, embora tenha chegado aos sessenta...  O meu caso é de pediatra, mesmo!  Ele concorda!  Procura me salvar. O coração para, volta a bater num compasso de samba. Afinal,  estamos no Rio de Janeiro e nas vésperas do carnaval.
            Minha vista fica cada vez mais turva e procuro entre os populares, que me olham com curiosidade, aquela mulher que diz que me ama, que eu faço falta,  essas coisas de mulher “apaixonada”. Nossas vidas trágicas não me permitem acreditar nela. Caso ela apareça, quem sabe acabo acreditando. Penso nisso e sinto algum conforto!
            De repente, ela surge, toda de branco, com seus olhos verdes azulados, ou azuis  esverdeados, nunca consegui distinguir direito. Ela volta a me afirmar: “ Eu te amo, não morra”. Como  sempre, não acredito. Quase todas mentem, principalmente, quando estamos morrendo. Ah! parece que eu procurei essa morte só para uma única vez acreditar no amor!
            Foi bom que ela viesse, mesmo para me mentir mais uma vez.
            Exalo  meu último suspiro e morro em paz, para o mundo e para as mentiras...
 
         

Nota:  Uma crônica bem humorada para exercitar a imaginação, apenas isso!