A VILA ZENO

Santo André. Por volta de 1949, meu pai resolveu construir no fundo de minha casa, um sobrado. Como o antigo imóvel era de esquina, frente para a rua Guilherme Marconi, e lado para a rua Jorge Moreira, a nova casa teria frente para esta última.

Minha irmã Guiomar e seu marido Olívio, tiveram a mesma ideia. Surgiram, então, dois sobrados, porém, acabou-se meu paraíso, que era o quintal, com variada espécie de frutas. Era meu reino, e a mexeriqueira meu ponto predileto. Vivia empoleirado em seus galhos, baixinha que era.

Mudamos.

Não querendo criticá-lo, pois sempre foi um bom pai, seu Tonico claudicou nos negócios. Sem necessidade, vendeu a casa em que nasci, a da esquina. E, atrás dela, todas as outras propriedades que adquirira, fruto da Mercearia Dom Bosco. Mas... Deixa para lá! A casa nova, convenhamos, era muito boa. Espaçosa, apesar de o terreno ser não muito grande. Ao lado da lavanderia, construiu um belo salão, com a finalidade de utilizá-lo como sala a televisão, novidade na época.

Ao fundo dessa rua, sem saída, havia um conjunto de casas, construído por um italiano, Marte Di Carlo, radicado em São Paulo, homem distinto, rico, que fez amizade com meu pai. Como ele tinha um filho, mais ou menos de minha idade, chamado Zeno, deu ao conjunto o nome de Vila Zeno. Eram todas alugadas, e meu pai ficou encarregado de administrá-las, cobrando e recebendo os aluguéis, impostos, e tudo mais.

Numa delas, morou um senhor, alto, magro, sempre muito bem vestido, jeito de aristocrata, cavanhaque branco devido à idade, que me impressionava por seu porte. Simpatizou-se comigo. Sempre que me encontrava, parava para conversar. Aí fiquei sabendo algo de sua história. Italiano, viera ao Brasil com a finalidade de estudar nossa natureza, a floresta, os animais. Havia, inclusive, editado um livro.

Deu-me um exemplar, com dedicatória. A parte mais lamentável. Como, logo depois, fui para o colégio interno, e nos anos seguintes meus pais mudaram diversas vezes de residência, o livro extraviou-se, nunca mais, tendo eu notícias dele. Ainda criança que era, não guardei o nome do autor, nem do livro.

Uma pena!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 29/01/2013
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