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minha mãe e uma prima


Fotografias


A mãe pegava a caixa de madeira em cima do armário do quarto, e chamando a menina, ia dizendo:

-Vamos ver algumas fotografias!

A menina jogava-se na cama de casal, brincando de pular sobre o colchão de molas. A mãe ralhava: 'Vai quebrar o estrado!"

A mãe abria a caixa, e começava a tirar algumas fotos já amareladas: "Estes aqui são seus bisavós, Heitor e Gênova. Eles vieram lá da Itália, e compraram esta casa onde a gente mora." 

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meus bisavós

"Tá vendo essa menina loirinha aqui? Sou eu quando criança! Eu não era muito bonita..."


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minha mãe e uma prima

A menina não concordava. Achava que a mãe tinha sido uma criança bonita. Olhava para a menina da foto, e para o rosto já enrugando da mãe, e tentava ver resquícios daquela  garotinha da foto.
 A mãe continuava: 

- Estes são sua Tia Rosa, Tia Nanina, Tio João... e este aqui é seu avô quando era menino! Meu pai, olha!

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Meus tios-avós e meu avô

Ela  se lembrava do avô  já idoso, que sempre chegava em visita de Niterói, onde trabalhava de mordomo na mansão de Dona Nair de Tefé. Toda vez que ele chegava, trazia muitas bolsas cheias de doces em calda, doce de leite, latas imensas de leite em pó, manteiga Regina em lata, doce de frutas cristalizadas, geléias, enfim, todas as coisas gostosas do mundo. 

-Seu avô era um homem bonitão! Estava sempre de chapéu e gravata. Antigamente, homem sem chapéu e gravata era considerado vagabundo... veja! Essas são minha prima Dalila, minha prima Yolanda, minha amiga da Companhia Telefônica... essa aqui sou eu!"

E a menina via as moças sentadas em fileira, canelas aparecendo discretamente sob as saias de comprimento médio, sorrisos estudados para a foto. Então, os olhos da menina fugiam para dentro da caixa de madeira, e pegando uma fotografia, perguntava:

-E esses aqui, quem são?

E assim passavam-se muitas tardes. Conforme ia ficando escuro, a mãe ia acendendo as luzes da casa. 

Quando a mãe morreu, a menina - já mulher feita - encontrou a caixa e as fotografias. Não conseguiu lembrar-se de todos os nomes, mas pode lembrar-se daquelas tardes. Hoje, as fotografias e seus personagens descansam em outra casa, dentro de uma outra caixa.


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meu pai
 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 29/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4111853
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