Santa Maria, dia 02

É como se os dias tivessem recomeçado a contar do 0 desde domingo. Não tive forças de sair de casa ontem e precisei sair hoje. Só o que pude presenciar são rostos tristes, pessoas apressadas e de cabeça baixa na rua, onde antes existiam pessoas amigáveis conversando alegremente, hoje só existe dor e tristeza.

Nós, jovens, costumávamos dizer que por ser uma cidade universitária ela "morria nas férias". Não esperávamos, não imaginávamos que neste ano de 2013 isso se tornaria uma verdade incômoda e com uma dor lascinante. Saudade de quando "morrer nas férias" era igual a ir para casa dos pais e permanecer junto de quem nos ama.

Hoje saí porque precisei, senão não teria saído. Fiquei quase três minutos atrás de um carro parado em um cruzamento. Eu via que não passava nenhum carro na outra via e que ele poderia passar, mas não buzinei, como é costume aqui. A cidade não tem clima para buzinas. Apenas aguardei que ele estivesse pronto para seguir e segui então, quase como quem segura a mão de alguém, consolando-o.

Quando você encontra um amigo na rua, além de agradecer por estar vivo, o assunto é sempre o mesmo e a frase se repete: "Meus pêsames pelos teus amigos!" seguido de um "Obrigada." onde se tranca a respiração para não ir às lágrimas no mesmo momento.

A cidade não tem clima para mais nada: a dor, tristeza, angústia e saudade estão atacando até mesmo quem não tinha amigos envolvidos no acidente. Só sei que ai demorar para que a gurizada volte a sorrir.

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Obrigada por todos os comentários anteriores, eles estão me dando força para continuar. Saber que estou tocando pessoas para unirem suas preces às nossas para dar força às famílias e aos feridos me mantem viva. Essa é minha válvula de escape. Muito obrigada!