Imaginar não custa nada

 
Olhando pela janela envidraçada, só se via arrojados prédios de escritórios e lá embaixo a rua molhada, carros passando e pessoas transitando sob guarda-chuvas. Até parecia que eu estava em Nova York. Do outro lado a vista se perdia desde o arborizado bairro do Pacaembu até bem longe. Em seu interior, porém, o apartamento amplo e vazio não me pareceu acolhedor, nem mesmo o imaginando mobiliado e bem decorado por futuros moradores que por ventura vierem a habitá-lo. Eu, particularmente, não me sentiria bem ali, embora estivesse a dois passos da avenida Paulista e ao mesmo tempo pudesse desfrutar daquela vista deslumbrante.

Em outro apartamento, também vazio e em andar mais baixo, de onde pouco se vê a rua, um detalhe me chamou a atenção. Na ala íntima, uma porta ao final do pequeno corredor abria para uma salinha dando passagem a dois dormitórios, um deles com banheiro conjugado. Pude, então, imaginar algumas situações. Na primeira, ali seria o reino das crianças. Duas meninas ocupariam a suíte e o garoto o outro quarto. Na salinha teriam suas mesas de estudo, seus brinquedos e a televisão. Nada de bagunça pela casa. Na outra hipótese, dois rapazes ou duas moças ficariam no quarto do corredor, deixando aquele espaço privilegiado para os pais que teriam além do escritório, também um sossegado cantinho de leitura longe da barulheira juvenil. Seria o refúgio do casal.

Isso tudo porque fui acompanhar uma amiga em busca de um novo lugar para morar. E como imaginar não custa nada...