Fome!
Quando sinto fome, um estranho fenômeno acontece comigo. Fico irritado, mal-humorado, de cara feia. Deixo de ser o Hélio habitual. Transformo-me completamente.
Sei que não sou o único neste mundo a passar por essa mudança. Já ouvi claras confissões e também testemunhei o mau-humor de várias pessoas nos seus momentos de fome.
Acho que isso acontece porque geralmente me concentro muito no que estou fazendo e só percebo a fome quando está no limite do suportável. Aí o corpo dá um jeito de gritar, por questão de sobrevivência.
Minha mãe dizia quando eu era adolescente que eu poderia estar quieto, estudando ou escrevendo, mas quando eu dizia “fome!”, levantava apressado e corria pra comer. Era uma fome urgente.
Fome dá fraqueza, mal estar, dor de cabeça, falta de atenção e raciocínio lento. Às vezes, tremedeira também. Não gosto nada desses efeitos colaterais, então é automática a vontade de buscar comida para acabar com eles.
Descobri uma palavra não usual para o meu estado de fome: ‘inanir’. “Você está com fome?” “Estou inanindo.” De ‘inanição’, mesmo. Tudo bem, é drama, eu sei. Mas é legal, diferente. Expressa exatamente o desespero do faminto.
Muita gente já me perguntou o que é que eu tinha por causa da minha cara. A fome me faz perder a graça de outras coisas e ficar sério. É um caso claro do ditado: “cara feia para mim é fome”. Porque fora esse motivo, não costumo fazer cara feita pra ninguém não.
Pelo menos não sou como alguns, que por qualquer motivo viram a cara, ou outros, que já nasceram de cara feia (não me refiro a beleza), de quem comeu e não gostou.
(Catalão, 17/01/2013)