À Santa Maria

Sei que todos já sabem da tragédia ocorrida em Santa Maria, afinal, a mídia não faz outra coisa senão contar e recontar a triste história das 231 vítimas que partiram nesse último fim de semana.

Talvez pareça clichê, já que muitos moralistas já puseram suas máscaras, e decretaram “Luto” no facebook, juntando-se à mídia sensacionalista, que acredita que tocando incessantemente na ferida, ajudará a fazê-la sarar. Mas particularmente, imagino que não há palavra, atitude, ou até mesmo mágica (milagre, se preferirem) capaz de amenizar o sofrimento das famílias e amigos das vítimas.

A verdade é que não consigo me conformar com a capacidade que a vida tem de destruir sonhos. Penso no cara que planejava sair para comemorar, se divertir com os amigos; peitou os pais, escolheu uma roupa legal e foi aproveitar a vida, porque o mundo não parece ser assim tão perigoso, e quando se é jovem, acreditamos ser invencíveis. Depois ele voltaria cansado para a casa, cairia no sono e no dia seguinte, sua mãe não entenderia a sua ressaca, e iria acorda-lo às 16h da tarde, dizendo que o almoço já está frio. Nos dias que se seguiriam, ele conseguiria o emprego dos sonhos, encontraria aquela pessoa com quem passarias o resto da vida, construiria a família, alcançando assim, talvez, o tão cobiçado Amor. Mas nada disso aconteceu. Ele morreu repentinamente graças à nuvem negra que chegou para lhe roubar a vida, e junto a ela os sonhos, as alegrias, as angústias que um dia passariam. Em seu lugar, só restou a dor e agonia daqueles que por mais que queiram, não podem partir com seus filhos e amigos.

Penso no desespero que seria perder alguém, seja de maneira drástica, repentina, gradual, e não consigo encontrar consolo em lugar algum. Verdade seja que diariamente, muitas pessoas partem vítimas de acidentes tão trágicos quanto o de Santa Maria, no entanto, nem todos têm a mesma repercussão, já que infelizmente, o choque, a sensibilização (e até a atuação da mídia) tende a ser levemente proporcional ao número de vítimas. Por isso incomoda-me ver tantas pessoas prestando suas condolências à Santa Maria, e esquecendo-se de ser humano nos outros dias de sua vida; como se apenas os acidentes em massa fossem relevantes. Mas não importa. O foco agora deve ser outro.

Cada um tem uma maneira própria de expressar a sua dor. Infelizmente, não vejo nada em que possa ajudar com a minha capacidade física/mental. Por isso, sinto-me na obrigação de permanecer em silêncio. Afinal, como disse anteriormente, pôr o dedo na ferida não irá fazê-la sarar.

Meus mais sinceros pêsames.

Bárbara Ornellas
Enviado por Bárbara Ornellas em 28/01/2013
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