Crônica publicada no jornal “O Norte”, Montes Claros-MG, dia 24 de março de 2010.
Dentro do ônibus
Ele está em um campo, ou melhor, em algum lugar com muita água, uma cachoeira talvez, mas há ondas, então é praia, porém a sensação é de água doce. A garota está de biquíni, sim, as garotas sempre devem usar biquínis, deixem os maiôs nas lojas. A garota passa e ele a segue com os olhos, cumprimentam-se com um piscar. Ele levanta-se da grama, ou melhor, da areia e vai ao encontro dela. A garota entra em uma mata, não, estão em um clube, sim, há um grande escorregador na piscina. Ele a alcança, mas sua barriga dói. Ela sai correndo. Ele cai no chão com a mão sobre a barriga e começa a suar. Um barulho de chuva batendo na janela. Ele acorda no meio da noite dentro do ônibus.
Olha em volta e só vê as sombras dos passageiros dormindo. O ônibus balança muito por causa da estrada irregular. Ouve sons de crianças mamando, puxando o catarro, pessoas comendo salgadinhos. Um trovão. A chuva está intensa lá fora. A barriga continua doendo, o suor começa a descer pelo rosto. Ainda bem que o amigo que sentaria na poltrona ao lado não veio. Assim sobrou-lhe mais espaço para deitar, esticar as pernas. Mas a barriga continuou doendo. Pensou o que poderia ser, o que havia comido, talvez aquele tutu na parada. O incômodo se tornou intolerável. Olhou para trás, o banheiro. Sabia perfeitamente que os banheiros de ônibus não são ideais para o número dois, principalmente se tratando de uma dor de barriga. O dois sairia com tudo bem aguado, e o cheiro seria insuportável. A situação estava piorando, ele não iria aguentar mais, era preciso parar o ônibus, ele precisava descer. Mas como? Naquela chuva? A situação seria vergonhosa para um homem como ele. Mas a noite o suavizou, a maioria dos passageiros estariam dormindo, não iam nem notar que haviam parado. O ônibus passa em um grande buraco. “Para pelo amor de Deus!”
Saiu da sua poltrona gritando para o motorista. Explicou a situação para o bom homem que imediatamente procurou um acostamento. “Você vai descer nessa chuva?” Não havia tempo para pensar e desembestou para o meio do mato, pisando nem sabe no quê. Não chegou a se afastar muito, afinal estava chovendo e quem é que ia ficar olhando naquele breu. Arriou as calças e só sentiu o alívio imediato. O suor se misturava com a chuva que o encharcava. Mas os pés começaram a se afundar na lama e o serviço ainda não havia terminado. Sentiu encostar em suas nádegas algo pastoso, e os pés continuavam a afundar. A chuva não para. Ele se levanta ainda expelindo os últimos incômodos e caminha para um lugar mais firme. E agora como ia limpar? Ainda que estivesse levado o papel, a essa altura já estaria todo molhado, impróprio para o usou. Procurou algumas folhas no escuro. E se for cansanção? Agora já era...
Volta para o ônibus envergonhado mais aliviado, porém muito molhado. O motorista pergunta se ele está bem, se poderiam continuar a viagem, se ele precisava de uma toalha... Ele disse ao motorista para não se preocupar, ele tinha uma toalha na bolsa e agora estava muito melhor, poderiam seguir viagem tranquilamente. Olha despistadamente para os passageiros e percebe que a calmaria do sono tomava conta deles. Ainda bem. Noite de chuva, noite de sono. Senta-se na sua poltrona, enxuga o que deu para enxugar e procurou dormir também.
Ele está em pleno mar controlando seu barco. Ouve um canto, pensa ser uma sereia; mas era a garota de biquíni cantando um axé em cima do palco. Ele se envolve na dança. A garota pisca o olho para ele. Passa um moleque vendendo sorvete em um potinho. Ele compra, mas quando abre vê algo estranho que não era chocolate. Ouve um trovão. Ele acorda. Não foi um trovão, era o barulho da descarga. O cheiro preencheu todo o ambiente. Sua barriga começou a doer. Alguém fez o número dois no banheiro do ônibus.
Olha em volta e só vê as sombras dos passageiros dormindo. O ônibus balança muito por causa da estrada irregular. Ouve sons de crianças mamando, puxando o catarro, pessoas comendo salgadinhos. Um trovão. A chuva está intensa lá fora. A barriga continua doendo, o suor começa a descer pelo rosto. Ainda bem que o amigo que sentaria na poltrona ao lado não veio. Assim sobrou-lhe mais espaço para deitar, esticar as pernas. Mas a barriga continuou doendo. Pensou o que poderia ser, o que havia comido, talvez aquele tutu na parada. O incômodo se tornou intolerável. Olhou para trás, o banheiro. Sabia perfeitamente que os banheiros de ônibus não são ideais para o número dois, principalmente se tratando de uma dor de barriga. O dois sairia com tudo bem aguado, e o cheiro seria insuportável. A situação estava piorando, ele não iria aguentar mais, era preciso parar o ônibus, ele precisava descer. Mas como? Naquela chuva? A situação seria vergonhosa para um homem como ele. Mas a noite o suavizou, a maioria dos passageiros estariam dormindo, não iam nem notar que haviam parado. O ônibus passa em um grande buraco. “Para pelo amor de Deus!”
Saiu da sua poltrona gritando para o motorista. Explicou a situação para o bom homem que imediatamente procurou um acostamento. “Você vai descer nessa chuva?” Não havia tempo para pensar e desembestou para o meio do mato, pisando nem sabe no quê. Não chegou a se afastar muito, afinal estava chovendo e quem é que ia ficar olhando naquele breu. Arriou as calças e só sentiu o alívio imediato. O suor se misturava com a chuva que o encharcava. Mas os pés começaram a se afundar na lama e o serviço ainda não havia terminado. Sentiu encostar em suas nádegas algo pastoso, e os pés continuavam a afundar. A chuva não para. Ele se levanta ainda expelindo os últimos incômodos e caminha para um lugar mais firme. E agora como ia limpar? Ainda que estivesse levado o papel, a essa altura já estaria todo molhado, impróprio para o usou. Procurou algumas folhas no escuro. E se for cansanção? Agora já era...
Volta para o ônibus envergonhado mais aliviado, porém muito molhado. O motorista pergunta se ele está bem, se poderiam continuar a viagem, se ele precisava de uma toalha... Ele disse ao motorista para não se preocupar, ele tinha uma toalha na bolsa e agora estava muito melhor, poderiam seguir viagem tranquilamente. Olha despistadamente para os passageiros e percebe que a calmaria do sono tomava conta deles. Ainda bem. Noite de chuva, noite de sono. Senta-se na sua poltrona, enxuga o que deu para enxugar e procurou dormir também.
Ele está em pleno mar controlando seu barco. Ouve um canto, pensa ser uma sereia; mas era a garota de biquíni cantando um axé em cima do palco. Ele se envolve na dança. A garota pisca o olho para ele. Passa um moleque vendendo sorvete em um potinho. Ele compra, mas quando abre vê algo estranho que não era chocolate. Ouve um trovão. Ele acorda. Não foi um trovão, era o barulho da descarga. O cheiro preencheu todo o ambiente. Sua barriga começou a doer. Alguém fez o número dois no banheiro do ônibus.