TRAGÉDIA

Discordo do clichê que algo de ruim deve acontecer para aprendermos alguma coisa. A verdade é, estamos entregues aos infortuneis desta vida, sem garantias, pisamos num mundo de vidro. As tragédias pintam quadros estupefatos, de cores cinzentas e sem brilho. Ainda se ouve os gritos das crianças em Realengo, do voo que não deu certo, dos desmoronamentos que enterraram famílias, nas rodovias da morte, da boate que foi tomado pela fumaça... Tragédias causam rachaduras na sociedade, um vazio desconcertante que apontam para os limites da nossa humanidade. Nos momentos destas infelicidades, a palavra é tímida, o coração é encharcado pelas lágrimas, as lembranças são lembradas, toda suposta verdade é inútil, todo e qualquer sentimento é trazido à tona. Nesse espaço o luto nos deixa esmagalhados e cai por terra toda a sensação de onipotência. Cabe-nos o lamento e o silêncio, a compaixão e o olhar acolhedor, dar sentido à vida, porque ela segue na sua finitude. Luto.