245 mortos e ele cumprindo apenas o seu dever.

Ele fora recrutado e treinado para uma única função: cuidar da entrada e saída, evitando principalmente que as pessoas saíssem sem pagar.

Recebeu orientação expressa do patrão para ser intransigente na sua função.

Ouviria todo tipo de "conversa" para tentar enrolá-lo, mas ele tinha que ser firme, não poderia vacilar em nenhum instante.

E acabou sendo um funcionário exemplar, só liberava a saída com o carimbo "pago" na comanda.

O seu empenho era tanto que até sonhava com isso.

Sonhava que estava no céu e ele ficava na porta, decidindo quem entrava e saía de lá.

Deus o havia colocado nesta atividade tão importante como mérito pela sua carreira exemplar na Terra

Assim tinha se tornado o porteiro do céu.

Sempre lembrava deste sonho quando estava lá, firme e forte, na porta da boate, comandando sua equipe de seguranças.

Controlava com maestria o fluxo das pessoas, na sua grande maioria jovens.

Com ele não tinha conversa, nem papo furado.

Só saía mesmo com a comanda na mão.

Até que naquela madrugada de domingo aconteceu a tragédia e todos quiseram sair ao mesmo tempo, sem o carimbo "pago" na comanda.

Ele não pensou duas vezes: conforme tinha sido duramente treinado, só podia sair depois de ter acertado a conta no caixa.

Veio uma multidão desesperada, um pisando no outro, gente gritando, calor e fumaça insuportáveis.

Parecia o fim do mundo.

Mas não se deixou abater: no que dependesse dele e de sua equipe, ninguém iria embora sem pagar o que consumiu.

Foi esta a ordem do chefe.

Só sairiam com a comanda sem o carimbro "pago" sobre o seu cadáver. Nada neste mundo o faria ceder.

Afinal ele estava lá só pra cumprir o seu dever.

Apenas isso.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 27/01/2013
Reeditado em 28/01/2013
Código do texto: T4108095
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