Meu querido guarda-chuva

 
Quando há sinais de chuva logo os ambulantes aparecem, com centenas de guarda-chuvas de todos os tamanhos e modelos e num preço tão acessível que dá vontade de levar todos.

O que eu mais gostei era vermelho, cheio de bolinhas coloridas! Eu tinha paixão pelo objeto, que foi meu companheiro durante muito tempo. Depois, numa dessas de emprestar, perdi o meu amiguinho. Fico à procura de outro igual quando paro nos semáforos, sem sucesso, mas não perco a esperança. Uma das minhas marcas é a teimosia. Nem sei se é bom ser teimosa assim, mas já consegui muita coisa com esta minha persistência.

Quando Rubem Braga escreveu sobre o guarda-chuva, em sua belíssima crônica de 1957, eu era apenas uma menininha. É belo demais e não resisto em citá-lo.

 
Não sou mais gente nova; um guarda-chuva me convém para resguardo da cabeça encanecida, e talvez o embalo de uma cadeira de balanço dê uma cadência mais sossegada aos meus pensamentos, e uma velha doçura familiar aos meus sonhos de senhor só.”

Se pensar um pouco mais, posso enumerar algumas da finalidades do guarda-chuva, cuja principal é a proteção dos pingos de água ou do sol intenso em nossas cabeças (pensantes ou de vento).  

Ele serve de bengala para subir morros e ajudar nas caminhadas de pernas mais fracas. Os coloridos abrem-se em leque para cenário de fotografias belíssimas, ou elegantemente pendurado no braço direito de um senhor, mostrando a sua virilidade e poder familiar de tempos antigos. Às vezes é lindo recordar os passeios românticos com o fiel amigo, naqueles vestidos bordados e longos das mocinhas. Ele serve até mesmo para enxotar alguém da vida da gente.

Aquela pontinha, que muitos pensam ser uma antena contra raios – e acho que é – podia bem dar umas boas futucadas em quem nos incomodava. Claro que hoje em dia ninguém é bobo de tentar fazer isso, porque corre o risco de levar um tiro, né?

O guarda-chuva protege do sol, do calor, do vento... Ele serve até para cobrir nosso corpo, pensando bem. Imagine! Você está nu e só tem um guarda-chuva!  Qualquer pessoa vai reagir assim, olha!

Está chovendo agora e penso na proteção que as samambaias do mato nos davam, além de serem lindas. Um verdadeiro guarda-chuva rendado de verde!

Bem que Rubem Braga tinha razão. Uma cadeira de balanço vai bem... Eu colocaria o meu guarda chuva à vista, para o caso de querer levantar-me dela.


Bom domingo!


 
 
Imagem – Praça de Praga (net) - Cantando na chuva (net)