Estamos em 2113.
2113. O mundo mudou tanto, se comparado com 100 anos atrás, que os anos que separam estes dois períodos parecem verdadeiros milênios.
Todas áreas do conhecimento evoluiram de forma exponencial, fazendo com que o mundo nada mais se parecesse com aquele que os avós dos nossos bisavós conviveram.
Engenharia, química, física, biologia, tecnologia e tudo o mais superaram os mais habilidosos ficcionistas e futurólogos, atingindo níveis que se equiparavam ao estado da arte.
Mas a área que superou todas expectativas foi a medicina.
E, dentro deste vasto campo, uma área em especial evoluiu na velocidade da luz: a dos transplantes.
O grande fator inibidor do passado, a rejeição, havia sido superado plenamente, de forma que a troca de órgãos era coisa banal, corriqueira, tão complexa quanto curar um resfriado (por sinal, gripes e resfriados haviam sumido há muitos anos).
A grande revolução no universo dos transplantes foi poder implantar órgãos de animais em seres humanos e vice-versa.
Foi constatado que alguns bichos tinham muitos órgãos parecidos com os dos humanos (vale uma ressalva: para se fazer, em 1960, o primeiro transplante de rim inter-vivos no Brasil, foram imprecindíveis os estudos preliminares feitos em cachorros, sem os quais nunca teriam sido bem sucedidos nos humanos).
Muitos donos de animais passaram a doar os rins, pulmão, parte do fígado, do pâncreas, etc. para seus bichos queridos, como prova incontesti de amor e gratidão pelo tanto de carinho, fidelidade e amizade recebido ao longo dos anos.
Vale lembrar que, no passado, quando o animal tinha alguma doença muito complicada (ou precisava de tratamento caro), sacrificá-lo era a atitude mais corriqueira, apesar de toda dor que isto acarretaria.
Se eu estivesse agora vivendo em 2113 e pudesse dar uma parte de mim para a minha querida cachorrinha Mel, não pensaria duas vezes. Doaria com todo prazer e satisfação.
Tenho muitas poucas certezas absolutas, daquelas sem a menor possibilidade de alteração, de contestação, de dúvida. A maior delas é que a Mel faria o mesmo por mim. Daria qualquer órgão, qualquer parte do seu corpo, até seu coração sem o menor pestanejar.
Daria também todos seus latidos, seu abanar de rabo e aquela alegria imensa, e única, quando ganha um osso do seu dono e grande amigo.
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