NA TERCEIRA IDADE
Um dia a gente fica velho. Ficamos mais teimosos, mais sistemáticos, para alguns, mais chatos. O bico de papagaio, o pé de galinha e diversas partes de animais começaram a surgir em meu corpo. A boca murchou, os dentes caíram e a pressão subiu - acho que é a única coisa que ainda me sobe. As pernas estão fracas e não obedecem mais aos comandos do cérebro. As mãos tremem igual a vara verde. A vaidade foi embora, não me importo mais com certas prioridades da juventude: meus músculos, meus cabelos, meus blá blá blá. O que era segundo plano passa a ser o primeiro. Os valores se inverteram. Aliás, quais valores? Não me lembro bem se eles existiam.
Agora tudo é mais difícil, às vezes fico invisível, os acentos preferenciais são ocupados por vaidades, por pernas fortes, colunas resistentes e mãos firmes. Olhos oblíquos fingem um sono profundo tirando um dos poucos direitos que tenho: o de seguir a viagem sentado. Ainda me lembro de um motorista que humilhou um senhor, pouco mais velho que eu, dizendo que ele só servia para atrasar a viagem. No dia não fiz nada para defendê-lo. Infelizmente! Queira encontrar esse motorista, agora bem mais velho, e ouvir dele como é tomar ônibus na terceira ou “quarta idade”. Hoje sei o que significa aquela frase que muitos desacreditam: “um dia você vai ficar velho”. E como sei! Em minha juventude li num tal de facebook o que postou um professor a respeito da idade avançada: “velhice é tempo de perdas físicas, mentais e emocionais. Cabe-nos postergar esses efeitos da melhor maneira possível.” Creio que ele, o meu velho pai e minha querida mãezinha postergaram bem os danos que o tempo causa.
Calma! Não desanime, dá para ser feliz na velhice. Construa a felicidade ainda na juventude ou até mesmo quando você acha ser tarde demais. O futuro é reflexo de seu presente, portanto, não almeje um por vir brilhante se o agora está apagado. Sabe aquela mágoa boba que insiste em continuar martelando o coração? Ela reflete mais a frente, o tempo perdido com coisas banais vai fazer falta em algumas décadas. Não, isso não é uma dica para ficar feliz, vou além, ela é para ser feliz. Num sufoco danado acordo desse sonho aos pouquinhos, olho para meu rosto e confirmo: as rugas desapareceram. Ufa! Ainda tenho 27 anos. Numa foto, aparentemente engraçada, feita há alguns anos por um programa de computador fui envelhecido cerca de cinquenta anos. Ao vê-la, pus-me a pensar em minha velhice. Como será? Venha comigo e acompanhe.