Caos Criativo

 
"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela."
Friedrich Nietzsche

Sou fera no jogo de caça-palavras. Tudo bem. Sei que não é lá grande coisa. Sendo mulher, possuo essa visão seletiva que me permite localizar qualquer coisa, em meio à bagunça. Se funciona para o meu armário, é claro que funcionaria para um joguinho onde as letras estão perfeitamente alinhadas, ainda que misturadas.
Também como mulher, acho que dou conta de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo. Até faço. Nem sempre bem. Isso é especialmente problemático no trato de prioridades e prazos, principalmente de pagamentos. Meu pai, que rebolava para manter o nome limpo sustentando o familião com seu salariozinho, deve estar se revirando na cova. Isto é, meu nome está limpo, mas é vergonhoso receber aquelas cartinhas de cobrança, por mero esquecimento.
De certo modo, consigo me virar na confusão que se tornou minha vida, de dias curtos para tantos desejos. Porém, confesso que gostaria de ser mais ordeira. Já tentei melhorar. Comprei um livro chamado Organize-se e, no Facebook, entrei para um grupo sobre administração do tempo. Faltou-me tempo para ler o livro e organização para acompanhar as postagens do grupo.
Voltei à minha realidade de contas vencidas e óculos e chaves viciados em pique-esconde.
Tem quem funcione melhor sob pressão. Eu tenho que funcionar também sob pressão, pois, invariavelmente, em meio ao meu descontrole, é o que me resta. Já a falta de qualidade no resultado disso é outra estória.
Por outro lado, li uma vez que o tamanho dos tanques de combustível de foguete é limitado à largura de túneis das linhas férreas americanas, construídos ainda no século XIX, equivalente a uma parelha (dois cavalos lado a lado). Ou seja, nossas viagens ao espaço não são mais longas, porque se limitam à largura de duas bundas de cavalo. Lenda ou não, isso nos faz pensar: evoluímos mais quando há liberdade e esta é pouco afeita a bitolas.
Assim, quando a culpa por não tomar uma atitude em relação à bagunça que me rodeia começa a consumir valiosos minutos dos meus dias, lembro que Deus só criou céus e terras porque antes havia o caos.
E respiro aliviada... Já estou quase lá!




Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 04/01/2013, e reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto em 04/22/2011.