Só podia ser mulher!

Remexendo meu baú de memórias, recordei um fato recente envolvendo a polêmica em torno das mulheres ao volante.

Estava eu, linda e serelepe, indo ao supermercado comprar alguns inocentes produtos dietéticos da Lucília Diniz que dão um status mais descolado à minha eterna dieta. Como todo empreendimento comercial que se preze, as vagas para estacionamento são consideravelmente apertadas, daquelas que te obrigam a sair do carro pelo porta-malas. E eu, como qualquer motorista recém habilitado, encontrei uma certa dificuldade para me encaixar nesse labirinto de Lego e na primeira tentativa, subi o pneu traseiro na pontinha da calçada. Tudo bem, nada de pânico! Sinalizei a saída, dei a ré e reposicionei o veículo numa precisão quase cirúrgica.

No entanto, não fui poupada do comentário do flanelinha que disse maliciosamente para o companheiro: “Só podia ser mulher!”.

Meus instintos terroristas imediatamente afloraram, motivando-me a amarrar a faixa na cabeça, pintar a cara, engatilhar minha bazuca lingual e metralhar os dois com um arsenal de impropérios (o outro não disse nada, mas foi culpado por não me defender). Mas contei até um milhão e duzentos e resolvi deixar pra lá, até porque séculos de machismo não se curam com cinco minutos de sermão.

Mas sabe como é mulher. Na hora, me senti o próprio Gandhi elegendo a paz como único caminho e perdoando meus inimigos com o silêncio sábio do perdão. Até fui magnânima ao ponto de dar 5 centavos de gorjeta na saída. Mas foi só chegar em casa pra me coçar inteira de vontade de voltar e passar com o carro por cima dele.

E para não deixar barato, vou explicar para esse flanelinha “filho de chocadeira” (presumo que por tamanho desrespeito à mulher, o sujeito não tenha nascido de um ventre feminino) e para todos aqueles que compartilham de sua opinião, a MINHA versão sobre esse típico comentário masculino:

Sabe quem inaugurou a função de ombudsman do Jornal “O Povo” e é uma das mais competentes e respeitadas jornalistas, nacionalmente reconhecida por seus méritos e pela história de superação e dedicação à comunicação social? A brilhante Adísia Sá. Sim, SÓ PODIA SER MULHER!

Conhece quem dirige os trabalhos da Associação Peter Pan, entidade que desenvolve um maravilhoso trabalho de amparo e tratamento para crianças vítimas de Câncer, reduzindo drasticamente o nível de letalidade e mudando a história do câncer infantil no Ceará? A honrosa Olga Maia. SÓ PODIA SER MULHER!

Ouviu falar de quem transformou a própria dor num importante meio de combate à violência familiar e doméstica contra a mulher, e sobre uma cadeira de rodas tornou-se uma premiada atleta paraolímpica, servindo de exemplo e incentivo para milhões de deficientes físicos que existem no Brasil? A lutadora Maria da Penha. SÓ PODIA SER MULHER!

Tem idéia do talento inegável de uma escritora de destaque que foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a receber o Prêmio Camões, equivalente a um Nobel na Literatura, e considerada por muitos a maior autora deste país, que levou ao conhecimento do mundo os sofrimentos do valente povo sertanejo? A competente Rachel de Queiroz. SÓ PODIA SER MULHER!

E finalmente, quem escreve esta coluna cuja função, embora velada sob as nuances da ironia, tem como objetivo despertar a consciência da mulher sobre seu papel não diria apenas de igualdade, mas de superioridade em muitos aspectos, contribuindo para que cada uma reconheça sua força e busque com coragem e sem culpa o merecido espaço na sociedade? Eu, Feminista de Arake. Claaaaaaaaro que só podia ser... MULHER!

Pronto, flanelinha, agora você tá perdoado, viu!

Feminista de Arake
Enviado por Feminista de Arake em 25/01/2013
Reeditado em 25/01/2013
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