O maravilhoso futuro
Acendia um cigarro. Sentava-me a beira do abismo, olhado o céu cinza que marchava pela sua imensidão. As indústrias trabalhavam a todo vapor, como sempre o fizeram.
Do meu lado esquerdo não possuía nada nem ninguém, assim como meu lado direito. Costumava fazer isso mesmo: sentar sozinho todas as manhãs para arejar a cabeça. A vista era linda. Em nenhum outro ponto da cidade se via tanta fumaça como este. E o barulho das máquinas então? Amável.
Acho que eu tinha uma vida para poucos. Ainda não precisava usar aquelas máscaras de oxigênio horrorosas que todos usavam por causa da intoxicação por chumbo. Me restava alguma porcentagem saudável do meu pulmão. Acho que ainda me sobrava 2 meses respirando o ar puro, sem aquela estupidez na minha cara!
Isso sem falar que ainda possuía alguns fios de cabelo em minha cabeça. As garotas certamente adoravam homens com pelos no corpo. Era uma raridade naquela época, praticamente um artefato.
Porém, devo admitir que vivia um pouco acima do peso. Era meio complicado manter a forma com as máquinas cuidando de todas as nossas ações. Amarrar os sapatos, coçar os olhos, se vestir... Até para se espreguiçar tínhamos uma máquina que puxava dali, torcia daqui... Perfeito. Aliás, o cigarro era acendido e colocado em minha boca por uma máquina também.
Lembro que nesta mesma semana, um primo meu veio a falecer. Todos da família ficaram surpresos como ele havia conseguido ficar tanto tempo vivo! Foi um feito memorável - não era qualquer um que chegava aos 27 e morria de ataque cardíaco! Com certeza, entraria para os anais da história como uma pessoa saudável que sempre foi.
Tudo bem que quase consegui atingir meu primo. Morri alguns meses depois que ele, na marca dos 23 anos! Faltou tão pouco... Morri por falência múltipla dos órgãos, causado por intoxicação por plutônio, o principal combustível dos nossos robôs.
Atingi muitas coisas na vida. Aos 12 anos, ganhei meu primeiro coração biônico, dado que o antigo já era ruim por causa do alto teor de gordura do sangue. Isso sem contar meu peso: 172 quilos sendo apenas uma criança! Incrível. Lembro que recebi muitas congratulações dos meus vizinhos que sintonizaram no nosso canal de comunicação inter-regional. Outro avanço maravilhoso também: comunicar com qualquer um da região no conforto de nossas cadeiras de roda. Nem precisávamos abrir o portão de nossos abrigos e percorrer os longos corredores de isolamento para chegar até nossos vizinhos.
Claro que podíamos ver o mundo lá fora. era tão belo! O cinza do céu, combinando com o amarelo das folhas era magnífico. Esses dois, somados com o vermelho do horizonte era o motivo pelo qual eu ainda tomava meus remédios para os meus olhos funcionarem!
A tecnologia certamente nos proporcionava momentos inesquecíveis. Me pergunto como aqueles desatualizados que viveram nos anos 2000 iriam se comportar com uma vida tão bela e frutífera como em 2100?
Aposto que não durariam um ano.