Memória de Criança
Em meio a um quintal aberto, e um tanque velho e comum, como eram bons os dias de verão. No velho quintal existia um pé de goiaba, que sempre deixava bondosamente suas frutas cair pelo chão, como chuva.
- Menino, isso tem lagartas!- retorquia preocupada minha mãe.-
Mas eu recordava de um ditado que sempre vinha a minha cabeça, “ o que não mata, engorda.” Esse quintal era o meu mundo, ora minha floresta, ora o meu mar, ora minha aldeia e cidade na qual os meus súditos, ouviam atentamente todos os meus desejos, e o bom era que não havia oposição contra as minhas regras, ordens e decretos, que resultavam somente em:
- Diversão a todos!
- Trabalho para formigas!
Uma vez ou outra, chamava algum amigo meu, aí sim o barco ficava bom... Os piratas erguiam suas espadas feitas de jornal, e pobres das flores e aranhas que ficavam perdidas no meu do caminho... E precisando de súditos, roubávamos: batatas, chuchus, cenouras, tomates e facas e fazíamos um completo reino...
Como era bom... Os súditos se curvando perante você, e a brincadeira era pura... Mas do mesmo jeito que a Rainha Mãe chama o rei, que o navio do pirata afunda... O tempo passa...
Hoje somente ando pelas ruas e avisto o velho quintal que um dia foi meu, a goiabeira cortada que não derrama mais como chuva os seus frutos, e o velho tanque que era o barco sendo usado para sua verdadeira utilidade, e você pensa em chorar, mas isso tudo não tem como voltar; já passou, e agora o meu reino é de outro rei. Entretanto o que mais me dói, é andar pelas mesmas ruas, e ver que os piratas, reis e rainhas que um dia visitaram seu oceano ou reino não sorriem ou falam com você, é aí que você percebe que o tempo passou, e que somente você guardou as lembranças...
E andando continuo, buscando um novo reino, um novo oceano; e principalmente novos e verdadeiros: reis, rainhas e piratas...