Exercitação Necessária

As conversas com amigos na sauna, nos bares da vida, as conversas nos almoços com colegas de trabalho, em encontros com parentes em casa, etc. invariavelmente nos conduzem a uma série de opiniões ou sugestões segundo as quais se tornaria melhor a vida do brasileiro ou o desempenho do país. Tudo como sempre em função da visão que temos dos procedimentos infelizes de nossos políticos; da tolerância do governo federal que, muitas vezes em conluio velado com esses mesmos políticos, promove ou facilita o acobertamento da corrupção; dos inúmeros insucessos governamentais, em todos os níveis, nas políticas de transporte, educação, saúde, habitação, trabalho, etc.; das falhas gritantes ou propositais do judiciário, favorecendo a imputabilidade de penas aos responsáveis pelos chamados “crimes do colarinho branco”; e diversas outras situações que nos alimentam a ilusão de que poderíamos oferecer soluções para o caso brasileiro.

Para verificarmos depois que não se muda nada absolutamente. Que tudo continua como no tempo em que éramos meninos, tendo muita coisa até se agravado. Nada mudaríamos pela simples constatação de que não teríamos isoladamente a menor condição de provocar qualquer alteração no sistema vigente, por mínima que fosse.

No entanto, parece lógico supor que o exercício de tentar entender como e por que as coisas acontecem, ajuda a combater o inevitável estado de senilidade que se aproxima com o passar dos anos. Ainda que muitas vezes as conversas com nossos amigos, colegas de trabalho, parentes, etc. acabem em retumbantes altercações de que possamos depois nos arrepender. Ou de que resultem reconciliações difíceis.

Ainda assim, é preferível que continuemos com os nossos julgamentos ou receitas, sendo recomendável apenas que tenhamos maiores cuidados quando da exteriorização dos nossos pontos de vista. Para que evitemos a possibilidade de criarmos constrangimentos ou até acumularmos inimigos.

Se disséssemos que “o mundo caminha para o socialismo”, fatalmente encontraríamos opositores com suas alegações, que nos convidariam ao repúdio dessa ideia. Uma ideia infeliz, poderíamos escutar. Mas então poderíamos argumentar que a maioria das fundamentações, pensamentos e ações de grandes líderes mundiais se colocam, pelo menos em tese, mais ao lado dos que são oprimidos do que dos que oprimem.

É só conferir o que disseram Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Abraham Lincoln e muitos outros. E porque não dizer Mao Tse Tung, Ho Chi Minh, Che Guevara e tantos mais. Ainda que nomes como esses três últimos possam provocar arrepios em alguns. Provavelmente iremos encontrar exemplos de paralelismos em seus discursos, que certamente convergirão para a luta pelos mais fracos.

É só verificarmos também que tudo o que se faz tem como meta o próximo. A partir de ações aparentemente sem a maior importância. Num banheiro público, devemos deixar suas peças limpas, de preferência o tampo do vaso sanitário não urinado, para que o próximo usuário sinta a mesma sensação de conforto que experimentamos ou desejávamos experimentar. Se desenvolvermos ações educacionais que objetivem a fixação desse comportamento, estaremos tomando atitudes de caráter social.

O oferecimento de serviços públicos de qualidade à população ao menor custo possível é igualmente uma atitude socializante. Universidades capazes de formar médicos, professores, engenheiros, advogados, etc. com apreciável nível de excelência serão instrumentos a serviço do desenvolvimento do país, redundando em benefícios diretos para os seus cidadãos. O que pode ocorrer tanto nos países considerados socialistas como nos capitalistas.

Nesse sentido, não se compreende que as vantagens, os serviços de qualidade, os benefícios gerados pelo trabalho de todos, as riquezas de um país sejam majoritariamente direcionadas para uma pessoa, uma família ou determinados grupos de cidadãos.

Que não são absolutamente heróis, como querem as revistas, tipo "Forbes", especializadas em relacionar os homens mais ricos do mundo. Porque para cada homem mais rico do mundo, existe uma infinidade de homens que se tornaram mais pobres para que isso pudesse acontecer. Ou seja, para que fosse possível a existência dos mais ricos. E esses mais aquinhoados possivelmente têm conhecimento disso.

No entanto, continuo acreditando que ideias desse tipo não mudam nada. Só que, na medida em que possam ter alguma fundamentação, ainda que muitos pensem o contrário, acho que vale à pena exercitá-las. Mesmo que seja somente para fins de manutenção do dinamismo da massa cefálica.

Dubai, 23/01/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/01/2013
Código do texto: T4102980
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