UM JACARÉ DE ESTIMAÇÃO
Os lindos e queridos jacarés são repteis nojentos que dominam, pela sua força e destreza, o meio ambiente em que habitam. Eles estão em rios e pântanos distantes da civilização. Estes animaizinhos, não muito simpáticos, são terríveis e cheios de manha, e não aceitam, como alimentação, mosquitos. Os mosquitos vivem na sua carcaça tranquilamente; Estes insetos alem de serem de difícil captura, tem pouca carne, e é por esta razão que os jacarés não os comem. O jacaré precisa comer o equivalente a 30% do seu peso.
O que causa uma certa intranqüilidade, ao depararmos, frente a frente, com este animalzinho, é o tamanho de sua boca, e a quantidade de dentes que o filho de uma puta tem. Eu nunca cheguei perto para contar. Não sou louco e nem tão pouco sou dentista, mas calculo, pela bocarra, que está próximo dos 100 dentes. Quem leva vantagem com isto são os fabricantes de pasta dental e os dentistas.
O jacaré tem duas serventias: Amedrontar o capitão gancho, e quando abatido, sua pele ser transformada em bolsa e calçado.
Eu acho que jacaré não tem alma, pois nunca vi algum deles rezando ou pedindo alguma coisa para o deus jacaré.
Bem, mas o que quero escrever mesmo é sobre um amigo e seu jacaré de estimação.
Este meu amigo, pelo que me parece, não tinha qualquer conhecimento sobre este réptil. Um dia, caçando no Mato Grosso, capturou um filhote de jacaré que tinha acabado de sair do ovo. Levou umas dentadas do pequenino e um carreirão da mãe, que de boca aberta e muitas rabadas tentava salvar seu filhote. Foi em vão, pois o meu amigo trouxe, escondido numa caixa o pequenino réptil que gritava desesperado querendo sua mãe.
Passou pela alfândega e veio depositar a pequena criança num tanque no fundo do quintal.
Todos queriam ver o projeto de jacaré que prometeu para si não se domesticar. Vivia de bocarra aberta mostrando seus dentes.
- Mas, este bicho vai crescer e será um perigo para os vizinhos! sempre tinha alguém que comentava preocupado.
- A medida que ele crescer vai se acostumando e será meu animal de estimação! respondia convicto meu amigo.
E o animal cresceu! cresceu assustadoramente tanto que já não cabia mais no aquário em que foi colocado anteriormente. Tinha mais de 3 metros e pesava mais de 300 quilos. Do lado, onde ele era mantido como prisioneiro, havia um galinheiro cheio de gordas penosas que o jacaré se apaixonou perdidamente. Todo o santo dia olhava para elas, lambia os beiços, e grunhia faminto dizendo.
- Um dia desses eu como vocês.
As galinhas estremeciam toda chegando ao orgasmo pensando no peso dele por cima delas.
Uma certa noite meu amigo acordou com o cachorro latindo desesperado. Latiu, grunhiu e parou.
Silêncio sepulcral.
Preocupado, levantou e foi marcar presença no lado de fora para descobrir o que estava acontecendo. Chamou o cachorro e não teve resposta. Foi até o aquário e constatou que o mesmo estava violado e completamente vazio. Passou por ele um frio que subiu do fundo do seu intestino grosso, passando por toda sua espinha indo feder na sua nuca.
Correu para dentro de casa, pegou a lanterna, seu revolve e foi em busca de uma resposta.
A noite não estava totalmente escura. A lua se fazia presente e foi, com certeza testemunha brilhante do que aconteceu.
Meu amigo encontrou um pedaço de perna estraçalhada, que pela pelagem deveria ser a de um homem, o dedo indicador da mão direita, penas das galináceas, e ali perto o rabo ensangüentado do seu cachorro.
E a lua que viu tudo contou:
- O ladrão era meio cego; pulou a cerca, espantou o cachorro e abriu a porta do jacaré pensando que era das galinhas. O jacaré com uma rabada e uma abocanhada engolir facilmente o abestalhado; Em seguida estraçalhou o cachorro, e foi para a sobremesa no galinheiro. As galinhas felizes fizeram fila para foda gigantesca, facilitando assim o trabalho do jacaré que tranquilamente abocanhou uma a uma.
A lua terminou a narrativa, riu e se escondeu atrás de uma nuvem.
Meu amigo ficou triste pelo cachorro, mas despreocupado com o perigo. -"O jacaré estava de bucho cheio, e por esta razão não oferecia qualquer risco", pensou meu amigo.
- "Comeu um homem, mais de 10 galinhas e o cachorro; isto era mais que suficiente".
Acionou a polícia, informando que o bicho era manso, e precisaria ser tratado com muito carinho para ser capturado.
Mais de 50 homens, armados até os dentes, fizeram um arrastão completo, pelas redondezas, até ao amanhecer.
- O jacaré deve ter se evaporado! alguém comentou.
A lua presenciou tranquilamente tudo isto; Cansada e de saco cheio foi se deitar lá no horizonte, por detrás dos altos montes, deixando o sol em seu lugar.
Quando tudo parecia sem solução ouve-se um grito de mulher.
- Veio daquele casebre! apontou alguém para o local.
Todos correram para lá. Abriram a porta e o que viram lá dentro?
A mulher foi varrer a casa e ao passar a vassoura por debaixo da cama, trouxe de arrasto, abocanhando a ponta da vassoura, o enorme jacaré.
A mulher brigava com o jacaré porque ele não queria largar a sua vassoura. O jacaré não largava a vassoura com medo de apanhar da mulher.
De repente um estrondo, muita fumaça , e cheiro forte de pólvora.
O bichinho recebeu como recompensa mais de 200 tiros dos policiais amedrontados.
- Não precisava fazer isto com o tadinho! reclamou a mulher e completou:
- Eu queria apenas que ele me devolvesse a vassoura.
Com o dedo indicador achado a policia conseguiu identificar um famoso e contumaz ladrão de galinha.
Abriram o jacaré para confirmar a coisa e encontraram as galinhas e o cachorro triturados, mas o ladrão ainda respirava vida. Enquanto o parto era realizado ele apavorado, sem uma perna e sem um dedo contou sofregamente:
- Fui roubar as malditas galinhas e abri a porta errada.
Mais tarde, meu amigo abriu um processo contra os policiais pela forma bruta, com requintes de maldade, como assassinaram o seu bichinho de estimação.