Meu Pé de Jatobá (1º trabalho)

George Lemos (primeiro trabalho, reeditado)

Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1988

(Reeditado em 2103, para se adequar às novas regras ortográficas)

Foi com muita tristeza que recebi a notícia sobre a derrubada do nosso querido Pé de Jatobá, por motivo de instalações de energia elétrica na área rural no povoado de São Roque, minha Terra natal na Serra da Ibiapaba – a 335km de Fortaleza-CE. Para quem ama e defende a natureza, foi extremamente doloroso ver uma atitude covarde, tendo em vista não haver necessidade de se cortar uma árvore tão rara da região. Destruíram uma espécie vegetal belíssima que representava grande valor para a família. O Jatobá, praticamente em fase de extinção, foi substituído por um poste de cimento para instalação de energia elétrica.

Além de fazer parte da mata ciliar e ter madeira nobre, era patrimônio natural da família. Transmitia beleza de forma imponente em nosso Sítio em São Roque, localizado ás margens de uma estrada que liga à localidade de Cachoeira. O distanciamento de minha Terra não permitiu sugerir opinião para tentar mudar o rumo das obras de instalação dos fios da rede elétrica, e assim salvar a sua existência.

Recordo-me quando menino, os divertidos momentos alegres que o Jatobá nos proporcionava nas noites de lua clara e de céu estrelado. Muito contribuiu no lazer de minha infância, bem como, de outros entes queridos da família e amigos da uma época ingênua. Lembro das simples brincadeiras de ciranda na areia branca ao seu redor. Das horas de descanso à sombra dele, e de outros momentos vividos naquele aspecto original de campo.

A paisagem era verdejante. Existia beleza adornando a Estrada, pela raiz, tronco, folhas, sombra e ainda o cheiro do fruto exótico. O cantar dos passarinhos que ali pousavam era um espetáculo. Tinha o galo de campina, o corrupião e o sabiá, todos sob a regência do cupido, formando uma sinfonia com encanto e êxtase. Bonito mesmo era o gorjear do cupido de manhã, bem cedinho, um dos mais belos pássaros da região, conhecido também por graúna, melro, assum preto, entre outros. De coloração negra uniforme e brilhante, um dos pássaros de voz mais melodiosa do Brasil. Há quem diga que o melhor cupido é aquele que se familiariza ainda com as carnaubeiras, destacando-se durante um clima ameno e nos fins de tarde, pela algazarra.

A machadada ao tronco do Jatobá ocorreu no mês em que se comemora o dia da árvore, sendo o dia 21 de setembro. Sentimos e lamentamos muito essa perda, principalmente meu pai – Aníbal Ribeiro de Oliveira - que também expressou seu sentimento em breves linhas com o tema “A Nova História do Velho Pé de Jatobá”, pois foi ele quem vivenciou a história desse magnífico arvoredo de nome Jatobá (ou Jataí) desde a sua mocidade, o que deixou marcas profundas. Demais familiares, vizinhos e antigos moradores da região também compartilharam do sentimento. Restou como recordação uma singela fotografia de 12 de janeiro de 1987. Graciosa ficava a casa, pois tinha o privilégio de estar bem à frente do exuberante Pé de Jatobá. No progresso urbano existe mesmo um mal necessário, mas o pior de tudo é quando, sem planejamento, critério ou por dinheiro, a mente humana destrói a natureza.

George Lemos
Enviado por George Lemos em 24/01/2013
Reeditado em 27/10/2013
Código do texto: T4102297
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