Carnaval?
E as outras festas?
Salvador não é só carnaval.
Todos os anos, quando se aproxima o carná, eu digo isso e nunca me arrependi. Salvador é carnaval e outras festas polulares que também fazem a capital baiana uma cidade alegre e canora quase o tempo todo. Às vezes, até demais.
Pena que algumas dessas festas do povão, de feição nitidamente cultural, estejam desaparecendo, ou se degradando, ou sendo relegadas a segundo plano pelos poderes públicos. Como mostrou o jornalista baiano Samuel Celestino em excelente artigo - Sepultaram a cultura - publicado, recentemente, no jornal A Tarde.
E assim se vai esvaziando, a passos largos, o badalado ciclo de festas populares da Bahia.
É preciso acabar com essa estória de vender Salvador como a capital mundial do carnaval, e nada mais. Um carnaval, hojr, cada vez mais rico nos seus blocos, afoxés, trios elétricos e camarotes e cada vez mais pobre de músicas, que considero o principal tempero das festas momesmas.
Sempre disse e repito: o carnaval é feito pra deixar saudades. Saudades das boas músicas - Ah, as velhas marchinhas! -; saudades de um sorriso trocado entre um pierrô e uma colombina que, por acaso, se encontram na avenida.
E o que acontece, neste particular, com o carnaval de Salvador? Quando se espera um bom repertório nos dias de folia, eis que somos surpreendidos com músicas fraquíssimas, fuleiras, tribais; algumas intragáveis. Sorrisos? No chão da praça o pau quebra.
E o mais chato e cansativo: cantadas pelas mesmas "estrelas" ou por pagodeiros analfabetos. Músculos, e só músculos, nos palcos e sobre os trios. Fazer o quê?
E aqui me lembro de uma observação feita por Olavo Bilac numa crônica escrita em fevereiro de 1900.
Disse o poeta: "Nada haveria a dizer contra os tocadores de Zé-Pereira, se eles conseguissem, por um milagre, atordoar somente os próprios ouvidos, deixando em paz os ouvidos alheios." Como isso não será possível, aconselha Bilac: "... fuja quem puder fugir, e quem não puder fugir ensurdeça, enlouqueça e morra!"
Não, amigos, Salvador não é só carnaval.
Salvador tem outras festas populares muito alegres. Lembrando algumas.
* Festa de Santa Bárbara, ou Iansã, no dia 4 de dezembro com seus suculentos carurus.
* Festa da Conceição da Praia, no dia 8 de dezembro, com um novenário piedoso homenageando Nossa Senhora da Conceição.
* Festa da Boa-viagem. Na passagem do ano, a procissão marítima do Bom Jesus dos Navegantes, com a imagem do Crucificado, triunfalmente, sendo conduzido numa secular galeota pela Baia de todos os santos.
* Festa de Reis. Com ternos de reis percorrendo a cidade, principalmente o bairro da Lapinha.
* Lavagem do Bonfim, depois de reis, com o seu cortejo singular, muitas vezes descrito e elogiado, dando início à festa maior da Bahia, a festa do Senhor do Bonfim.
* A segunda-feira gorda da Ribeira, uma festa para o pessoal da península itapagipana. Itapagipe, um dos bairros mais agradáveis de Salvador.
* Lavagem de Itapuã, que alegra o mais romântico e decantados bairro da capital baiana, merecedor de belos versos de Caymmi e Vinícius.
* Finalmente o carnaval. Uma fuzarca mexendo com a cidade e seus moradores durante uma semana; mais do que manda o calendário. E aí?
Que se dê toda força à folia momesca. Mas os governantes dessa abençoada Salvador não têm o direito de esquecer as outras festas. Elas, como disse, também fazem de Salvador a cidade mais alegre do Brasil.
Se vou passar o carnaval em Salvador? Só Deus sabe.
E as outras festas?
Salvador não é só carnaval.
Todos os anos, quando se aproxima o carná, eu digo isso e nunca me arrependi. Salvador é carnaval e outras festas polulares que também fazem a capital baiana uma cidade alegre e canora quase o tempo todo. Às vezes, até demais.
Pena que algumas dessas festas do povão, de feição nitidamente cultural, estejam desaparecendo, ou se degradando, ou sendo relegadas a segundo plano pelos poderes públicos. Como mostrou o jornalista baiano Samuel Celestino em excelente artigo - Sepultaram a cultura - publicado, recentemente, no jornal A Tarde.
E assim se vai esvaziando, a passos largos, o badalado ciclo de festas populares da Bahia.
É preciso acabar com essa estória de vender Salvador como a capital mundial do carnaval, e nada mais. Um carnaval, hojr, cada vez mais rico nos seus blocos, afoxés, trios elétricos e camarotes e cada vez mais pobre de músicas, que considero o principal tempero das festas momesmas.
Sempre disse e repito: o carnaval é feito pra deixar saudades. Saudades das boas músicas - Ah, as velhas marchinhas! -; saudades de um sorriso trocado entre um pierrô e uma colombina que, por acaso, se encontram na avenida.
E o que acontece, neste particular, com o carnaval de Salvador? Quando se espera um bom repertório nos dias de folia, eis que somos surpreendidos com músicas fraquíssimas, fuleiras, tribais; algumas intragáveis. Sorrisos? No chão da praça o pau quebra.
E o mais chato e cansativo: cantadas pelas mesmas "estrelas" ou por pagodeiros analfabetos. Músculos, e só músculos, nos palcos e sobre os trios. Fazer o quê?
E aqui me lembro de uma observação feita por Olavo Bilac numa crônica escrita em fevereiro de 1900.
Disse o poeta: "Nada haveria a dizer contra os tocadores de Zé-Pereira, se eles conseguissem, por um milagre, atordoar somente os próprios ouvidos, deixando em paz os ouvidos alheios." Como isso não será possível, aconselha Bilac: "... fuja quem puder fugir, e quem não puder fugir ensurdeça, enlouqueça e morra!"
Não, amigos, Salvador não é só carnaval.
Salvador tem outras festas populares muito alegres. Lembrando algumas.
* Festa de Santa Bárbara, ou Iansã, no dia 4 de dezembro com seus suculentos carurus.
* Festa da Conceição da Praia, no dia 8 de dezembro, com um novenário piedoso homenageando Nossa Senhora da Conceição.
* Festa da Boa-viagem. Na passagem do ano, a procissão marítima do Bom Jesus dos Navegantes, com a imagem do Crucificado, triunfalmente, sendo conduzido numa secular galeota pela Baia de todos os santos.
* Festa de Reis. Com ternos de reis percorrendo a cidade, principalmente o bairro da Lapinha.
* Lavagem do Bonfim, depois de reis, com o seu cortejo singular, muitas vezes descrito e elogiado, dando início à festa maior da Bahia, a festa do Senhor do Bonfim.
* A segunda-feira gorda da Ribeira, uma festa para o pessoal da península itapagipana. Itapagipe, um dos bairros mais agradáveis de Salvador.
* Lavagem de Itapuã, que alegra o mais romântico e decantados bairro da capital baiana, merecedor de belos versos de Caymmi e Vinícius.
* Finalmente o carnaval. Uma fuzarca mexendo com a cidade e seus moradores durante uma semana; mais do que manda o calendário. E aí?
Que se dê toda força à folia momesca. Mas os governantes dessa abençoada Salvador não têm o direito de esquecer as outras festas. Elas, como disse, também fazem de Salvador a cidade mais alegre do Brasil.
Se vou passar o carnaval em Salvador? Só Deus sabe.