Algumas Coisas que Acontecem no Bar
O bar é um lugar diferente, ricos e pobres depois de duas doses se transformam numa mesma classe. O faxineiro passa a doutor e a silenciosa freira passa a gritante meretriz. O corno apaixonado se banha em lágrimas e pede musica de Amado Batista e ao seu lado outros que já passaram pela mesma situação e perdoaram as traidoras, dizem que se o caso fosse com eles só restaria a adultera caixão e vela preta, chifre jamais. Mas existem outras coisas engraçadas e ao mesmo tempo constrangedoras em um bar, por exemplo, o que Nelsinho Penacho esposo da advogada Marlucia Fernandes contou-me em tom de causo, tanto que achei interessante envolver no assunto. Segundo ele a esposa estava naqueles dias em que até o rosto de Tom Cruise na televisão lhe causava enjôo. Encontrou então motivos para aquela escapada e coincidentemente o que veio a cabeça foi o bar (nada premeditado), a cerveja gelada as mulheres sozinhas e acompanhadas eram prêmios para as vistas, até o momento em que um sujeito marombado de óculos escuros sentou a sua frente, justamente no campo de visão que enxergava o outro lado da rua onde passava quem interessava cobiçar. Tudo bem, disse ele inicialmente, porém por estar de óculos escuros o homem não especificava para onde estava olhando e isto causava inquietação em Nelsinho que não poderia virar para o lado senão ficaria cara a cara com uma mulher que estava acompanhada, do outro um homossexual pintado feito joaninha quase de rosto colado ao seu pelo espaço físico do lugar. Ir embora seria a pior opção, no mínimo ao abrir a porta receberia um balde de água fervendo nos culhões. Então vamos lá, pois ele até o momento não sabia que a lei de Murphy seria usada em seu favor. Pediu outra cerveja, carne de sol batatas fritas e uma dose de Seleta, dizem que quanto mais se evita olhar para um determinado lugar, mais se olha involuntariamente. Assim foi a saga de Penacho, dava um gole na bebida e olhava para o cara, comia a carne e olhava novamente até se descobrir embriagado sem tirar o olho do sujeito. O pior é que mesmo com os óculos disfarçando, o ponto de fuga convergia justamente para ele, surgiu então a idéia de pedir um jornal ao garçom, assim com a cabeça baixa se desvencilhava do suposto conquistador. Mas a droga era a curiosidade, para saber se o sujeito continuava olhando ele levantava a cabeça e olhava. O homossexual fantasiado de Joaninha foi o primeiro a comentar; “Ai, meu coração sangra cada vez que você olha para lá, foi decepcionante este amor à primeira vista!” Não soube o que dizer o coração dando pulos de vergonha e a impressão de estarem todos com a mesma imagem do homossexual, pensou se levantar e ir embora, mas não poderia sair assim, tinha certeza da sua condição sexual, era altamente resolvido e isso não afetaria sua masculinidade, tomou mais um gole e pediu outra cerveja e outra dose de Seleta. O homossexual pintado feito Joaninha beliscou de novo com as palavras, “Bebe, enche a cara bicha apaixonada!”. Nelsinho quis se levantar e dar um soco naquela cara brilhante, mas respirou fundo e lhe veio à propaganda de Anderson Silva, contou até dez e a raiva passou. Enquanto respirava seus olhos vedaram para a visão exterior e não percebera que os óculos do marombado continuavam na mesma linha, ou seja, a linha reta que parava justamente na mesa dele. Mas agora a coisa tinha saído das fronteiras da razão, iria ao menos perguntar o porquê encarava tanto para ele a ponto de todos em volta perceber. Aproveitando a coragem do alcool, subitamente foi até aquela mesa, não sem antes ouvir mais uma do homossexual pintado feito Joaninha, “Tomou coragem, para cair nos braços do seu amor? Vai mesmo, acaba de vez com a minha ilusão!”. Na mesa Nelsinho disse que foi cortês no boa noite para iniciar a descarga da cólera. Mas o resultado foi uma vergonha maior que aquela que pensou ter experimentado. “Boa noite cidadão”! O homem leva a mão para cumprimentá-lo. “Oi quem é você?” Percebendo que se tratava de um cego, tentou se desculpar e sair, mas.” Que bom que alguém se aproximou de mim, eu estava louco para ir ao banheiro e me roubaram à bengala, você pode fazer a gentileza de acompanhar-me?” Nelsinho rubro esperou que ele se levantasse e foi indicando os passos. O homossexual pintado feito Joaninha cruzou os braços e com olhos de ciúmes acompanhou os dois até a entrada do banheiro.