(Re) Nascimento

Às vezes me pergunto se tudo o que acontece na vida tem uma razão lógica, ainda hoje não me respondi. O fato é que naquele dia eu iria me vestir de vermelho, e isso tinha uma razão, tinha uma justificativa, só não esperava daquela maneira.

Havia me vestido com aquela que considerava ser essencial para aquele dia. Traria sorte para a partida! As listras rubras relembravam o passado daqueles que um dia foram ídolos que nunca vi, não pessoalmente. Aquela assinatura estampada no meu peito não chamou tanta a atenção quando eu estava cercado.

Assim que olhei para céu, gesto que aprendi no campo para ver se a chuva estava chegando, fui surpreendido com um abraço e com um azul claro e límpido. Sonhei contigo ontem, falou, e entre uma lágrima continuou, tem cuidado. Sorri e afirmei balançando a cabeça. Voltei a contemplar o azul.

Nunca imaginei que sentiria uma angustia tão grande em não mais poder ver uma beleza infinita. Depois daquele dia, não é incomum me surpreenderem parado, olhando para o nada.

Nós somente valorizamos aquilo que perdemos, não importa o que seja. Hoje, perdi o medo. Havia saído com uma única intenção, voltar e ver uma vitória do meu time, sentado no sofá da minha casa, com a minha família. Saí, e mais uma vez flertei com o céu, o dia estava lindo, sol radiante, poucas nuvens e uma brisa fraca. Não há clima melhor para um passeio sobre duas rodas.

Na volta, quando já estava na calçada, ainda tive tempo, como em um último suspiro, de refletir sobre a pequenez da humanidade, não, não cheguei a filosofar ou a delirar por causa da anemia, era um ataque de lucidez diante do fim. Conclui que não somos nada, diante de algo que está acima de nós. Minha mente em pouco tempo entrou em colapso, e uma enxurrada de pensamentos a inundaram, eu não mais reflexionava, já estava fora de si.

Foi quando despertei de um sono profundo, mas ainda estava lá, na calçada, cercado, sendo acordado a cada segundo. Depois que havia despertado, a enchente de pensamentos me havia abandonado e somente uma coisa vinha à minha cabeça, melhor dizendo, uma pessoa, aquela que estava ao meu lado. Dizem que mãe pressente quando o filho precisa. Não acreditava muito. Já era segundo tempo quando imóvel, e com uma luz no rosto, a ouvi me chamar, por várias vezes. Não pude responder.

Hoje contemplo o que é posto a minha vista e as belezas infinitas nunca me foram tão efêmeras.

Bruno Mota Pinheiro
Enviado por Bruno Mota Pinheiro em 23/01/2013
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