Sangue Bom
"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"
(Machado de Assis)
há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"
(Machado de Assis)
Faço aulas de dança de salão. É um bom e divertido exercício, mas não creio que eu vá aprender a dançar de verdade. Sou meio desajeitada e... Tá. Parei.
Engraçado a frequência com que nos autodepreciamos, né? Será que é só falsa modéstia ou temos mesmo a autoestima tão baixa?
Dia desses, após a aula, filmei um dos colegas mais avançados da turma dançando com a assistente do professor. Todos que assistiram ao vídeo, exclamavam, admirados: "Uau! Ele dança muito!". Menos ele, que só lamentou: "Gordo dançando é feio, né?". Ele está mesmo algo acima do peso, mas nada exagerado. Por que esta reação?
Esta semana, entrei num banheiro público justamente a tempo de ver a última usuária postar-se nas pontas dos pés para conseguir conferir, no espelho sobre a pia, o visual abaixo da cintura. Deu uma ajeitada na saia, sorriu para mim:
- Chato ser baixinha!
Sorri de volta, compreensiva, do topo dos meus 1,58m de altura. Não tenho hormônio para avaliar os atributos de uma mulher mas, pelo que entendo de estética, a menina era linda! Vai entender...
Se bem que, de modo geral, temos mesmo uma tendência meio sombria de focar o lado fosco da moeda, ainda que o outro seja lindo e reluzente. Temos sempre um "porém", pronto a desmerecer todos os créditos concedidos antes.
Eu tenho me policiado para mudar isso, ser um pouco mais Polyana.
Dia 28 de dezembro, aproveitei a calmaria no trabalho e fui doar sangue. Minha meta é fazer três doações por ano, mas, por falta de tempo, nunca passo de duas e quis juntar o agradável ao útil: com a cidade vazia, não enfrentaria filas e ajudaria a elevar um pouco o estoque do hemocentro, nesta época de baixa. Ao entrar no prédio, descobri porque a cidade estava tão vazia: graças a uma campanha na TV (eu não vi!), todo mundo estava lá! Perdi um tempão!
Já meio mal humorada na fila, virei minha moedinha embaçada e vi o ouro brilhar do outro lado: aquele povaréu todo estava ali voluntariamente se doando por amor ao próximo. Só gente boa!
Perceber isso foi ótimo, adoçou meu sangue!
Difícil foi convencer o moço de branco de que eu não tenho diabetes...
Texto publicado no Jornal Alô Brasília em 18/01/2013.