LEMBRANÇAS 10

Mais cirurgias que consegui adiar um pouco graças a uma dor de garganta que, por infelicidade, logo passou. Experiência ingrata que só não foi pior porque fiz um escândalo e me deram anestesia geral. Então, nada de "cobrinhas". Entretanto fiquei três dias sozinha num quarto de enfermaria. Por ser uma operação das grandes o gesso ia do tórax até a ponta dos pés, atravessado por um cabo de vassoura mantendo minhas pernas separadas. Sentia a falta de meu pai. Acordei da anestesia gritando por ele. Não havia ali uma cadeira para ele ficar sentado, velando por mim. Chorei. Queria minha mãe. As enfermeiras eram de gelo. Deram-me um sedativo e eu dormi. Acordei com o chá da noite. Apertei uma coisinha branca, presa por um fio que vinha da parede. Que sede! Veio o enfermeiro da noite anterior que mandara apagar a luz porque ler à noite fazia mal. Graças a Deus era ele e não as geladeiras. Melhor ainda quando foi buscar uma mangueirinha de soro para poder tomar o chá deitada. Sentou-se ao meu lado. O chá tinha gosto de plástico por causa do copo. Passou a mão pela minha testa e sorriu.

__Como você e bonita Fátima...

Não houve tempo nem para rubores. Apaguei em sono profundo por causa dos sedativos. Fui trocada de ala. Nunca mais o vi. Só sei que me achava bonita e me chamava de Fátima. Comecei perceber que me agradava a ideia dos homens me acharem bonita.

sonia dezute
Enviado por sonia dezute em 22/01/2013
Reeditado em 19/11/2015
Código do texto: T4099054
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