A FICHA CAIU...

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Essa expressão lembra os telefones públicos, conhecidos como orelhões, nos quais a ligação se completava no momento em que a ficha caía. Significa passar a entender alguma coisa, tomar consciência, subitamente, de algum erro cometido, em especial sem má-fé. Às vezes a ficha demora anos a cair. Cair a ficha se aplica também coletiva, política e culturalmente. Como a ficha demorou a cair para que, no Brasil, se abolisse a escravatura! Com quantas distorções nós outros convivemos anos e anos e, da parte da maioria, como se fosse uma coisa normal... Aliás, se alguém contesta certas coisas, e com clarividência, aí então o canhão lhe cala a razão...

Há uma passagem bíblica, emblemática, como tantas outras, que ilustra essa história. Naquele tempo, viajavam juntos dois homens, conhecidos hoje como discípulos de Emaús. A conversa entre eles girava em torno da recente morte do Mestre, naturalmente lamentando a ocorrência. E sucedeu aproximar-se deles o próprio Jesus que, segundo a versão do padre Antônio Vieira, “achou a tristeza dos dois discípulos de Emaús”. Mas eles não o reconheceram. A narrativa dá a entender que os olhos deles estavam como que fechados. A conversa continuou, mas aqui vamos encurtar a conversa e chegar aos finalmente. Aproximando-se da aldeia, os viandantes convencem o suposto forasteiro a não seguir viagem: – Fica conosco, porque se faz tarde, e o dia declina! Já dentro de casa, sentados à mesa, no momento oportuno, Jesus finalmente se identifica: – Ó tardos em entender!... Quando desapareceu, abriram-se-lhes os olhos. Justamente quando desaparece a visão física.

É, então, que a ficha cai.

Acontece-nos cair a ficha quando estamos de olhos fechados, dormindo ou não. No sono, coisas boas; na insônia, pesadelos... Flashback que passa a nossa vida a limpo. Pois, disse o Millôr Fernandes: viver é desenhar sem borracha. Por isso, uma hora a gente se dá conta, caindo em si, e a ficha também cai.