Obama

Não quero investigar a realidade político-econômica dos Estados Unidos da América do Norte. Quanto ao meu país, o que acontece em muitos locais está muito claro. Pagamos para ter segurança, habitação, saúde e justiça. Cada um cumpra o seu papel, a sua obrigação sem que, para tanto, seja necessário o cidadão viver dia e noite cobrando, pedindo ou clamando. Nós pagamos para desfrutar de cidadania e cidadania não é perder tempo aboiando a manada de políticos, mas poder viver a sonhada qualidade de vida neste Brasil cujas belezas e paraísos são exclusividades nas mãos de poucos.

O povo é dono e senhor e, dele e para ele, todo o benefício deve convergir. Dispensados estão de me alertar sobre que o prêmio e o castigo existem. Que os dois sejam providenciados, especificamente, quando for o caso. Dispensados também estão de me apontarem como analfabeta política, populista, sonhadora e romântica. Temos a liberdade de ser o que somos. Mal algum causo ao meu semelhante quando percebo o real com os olhos ficcionais. A realidade às vezes é ficcional e o ficcional tantas vezes é real.

Essa conversa dos dois parágrafos iniciais pretende criar uma proteção contra os ataques de neurastênicos e tomadores de conta do mundo que poderão se insurgir contra os meus devaneios. E que devaneios seriam estes? Agora mesmo digo um deles. As cenas mostradas pela mídia sobre a segunda posse de Obama no governo dos Estados Unidos da América do Norte me emocionaram, me encantaram.

E então, será que todos aqueles indivíduos que compareceram à festa da posse do presidente Obama são igualmente analfabetos políticos, populistas, sonhadores e românticos? Será que são? Logo lá? Logo na América do Norte? Quem conhece um pouco da história daquele país sabe que os seus filhos são verdadeiramente amantes da liberdade e também do capital. E o que, então, estariam lá fazendo, com lágrimas nos olhos, pretos e brancos, crianças e adultos? Talvez fosse melhor reler Marx. Aquele mar de gente convenceria o mais cético dos analistas, o mais severo dos economistas e o mais antipático comentarista político.

Impossível resistir àquela manifestação de subjetividades. Ah, e quem não saberia dos defeitos da América, de Obama, de todos nós? Somos todos imperfeitos e o sonho é que nos redime. Quem não está consciente das injustiças que cometem os Estados Unidos? Ora, até mesmo a Igreja as cometeu e continua cometendo, apesar de já estar se arregimentando porque, forçosamente ou não, parece começar a entender o poder da voz do povo.

No Brasil, lá na América de Obama e em outros países o contexto social se transformou de forma gigantesca e veloz e, a partir de agora, é mesmo impossível deter a consciência popular. Que beleza e que sensação inebriante causa, não o Poder em si e representado no cargo, no trono, na cadeira onde se senta Obama, na casa Branca, mas de se notar que isto é possível, politicamente correto e admirável. Então, o povo descobriu mesmo a sua força descomunal e isto, de tão belo, transcende, vira poesia.

E quem se incomoda porque a bela Beyoncé tingiu de loiros os cabelos? O que importa é vê-la diva em sua terra e entoando o hino de seu país que, durante séculos, foi comandado por supostos seres supremos que chamavam para si e para os seus todos os espaços privilegiados.

Fim da supremacia opressora. A América pertence à cantora, ao Presidente Obama e sua família. E nisto o povo se sente representado, o povo mesmo e não os inconformados moralistas e opressores. Aqueles que segregaram a sociedade americana tiveram direito à falha, à imperfeição, ao erro e ao perdão. Portanto, Obama, o povo quer e o povo o aceitará se você errou ou se tornar a errar. Por exemplo, percebi que você não tem pé de valsa, mas disto Michelle se ocupará. Mas tendo ou não, foi delicioso observar a bela dama de vermelho nos seus braços. Cada mulher sonhadora conseguiu se sentir a primeira dama do planeta.

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Horário da publicação (em Sergipe): 11:04