CAFÉ COM PERDÃO

Então, se arrependeu de tudo o que disse e fez a ela. Depois que tudo passou, percebeu que a luzinha vermelha da consciência, fora acesa pelo Espírito Santo, alertando que algo foi feito e falado indevidamente e precisava de reparos. Entretanto, por se conhecer, sabia que não seria fácil passar por sobre o seu orgulhoso “eu” e fazê-lo curvar-se, render-se e pedir perdão. Mas, ou era isso ou seria continuar dividindo a mesma cama com a pessoa amada, metade de si mesmo, ferida, abatida e humilhada. Pedir perdão ou atravessar a noite lutando com a mórbida insônia que, em horas como essas, associa-se à culpa e à dor de ter feito, quem ama, sofrer. O travesseiro ao lado, onde tem na fronha, as marcas das lágrimas, faz repousar a cabeça de quem dormiu por conta da exaustão de chorar e fazer extravasar a tristeza que consome quando o ataque vem de quem deveria nos defender, nos amar, nos proteger. Num leve gesto, arrisca um toque com os dedos nos cabelos dela. A intenção é dúbia: quer acordá-la para pedir perdão, mas, ao mesmo tempo, temerosamente, deseja que não acorde, que não abra os olhos e que não o encare. Culpa, arrependimento, amor, compaixão e medo. Sentimentos que se misturam e confundem o coração. Como diria Paulo, aos irmãos da Galácia, é “a carne lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis”(Gl 5.17). Mas, cheio de arrependimento, sabe que difícil será dormir, por isso, resolve permitir à pessoa amada, o sono que atrai o sonho que, por sua vez, alivia as tensões da dura realidade dos desentendimentos conjugais. A noite é longa. Mas, torna-se menos dura quando, arrependido, se recorre ao Deus vivo, “certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel”(Sl 121. 4) e de que “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1:9). O dia amanhece e ela acorda. Ao seu lado, a cama vazia. Vai à cozinha e vê uma mesa preparada com tudo o que ela gosta, feito especialmente, por aquele que ela ama. Ele vai ao seu encontro. Dá-lhe um abraço forte, aconchegante e silencioso. O que quebra o silêncio da casa é o choro dos dois. Mas, ele está decido. E do coração brota nos lábios a confissão do pecado cometido contra a sua amada, seguido de um sincero pedido de perdão. O perdão é por ela, concedido e selado com um beijo. À mesa, uma longa, mas, proveitosa conversa e a renovação da aliança do casal, que ora de mãos dadas. Dalí por diante, eles resolvem aplicar ao relacionamento a Palavra de Deus, que diz: “seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”(Tg 1.19). E ali, mais uma vez, se confirma, na vida de mais um casal que se ama e que ama a Deus, a Palavra do Senhor, quando enfatiza que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30:5). E principalmente, quando se toma um Café com Perdão.