Bendita " cagada"
No ano de 1948 Sabará foi atingida por um dilúvio. Choveu e
muito, dias e dias, chuva forte, causando todo o tipo de catástrofe:
desmoronamentos, falta de energia, árvores caindo, inclusive nas
estradas e rodovias, barrancos e pedras, afogamentos, um caos.
Quem mais sofreu foi a população ribeirinha. O rio Sabará
transbordou invadindo e derrubando casas, destruindo com a força
de suas águas tudo que encontrava pelo caminho. Até um matadouro,
que ficava ribeirinho, foi totalmente destruído. Animais desciam o
rio pela força da correnteza: porcos, bois, cabras, acompanhados de
utensílios domésticos tais como geladeiras, fogões, mesas, cadeiras,
guarda-roupas. Um triste espetáculo. Pontes ruíram e Sabará ficou
isolada das demais cidades vizinhas. Um horror.
A rua Pereira Vieira, uma das ruas ribeirinhas ao rio Sabará só
não sofreu uma catástrofe maior, apesar de ter sido muito castigada,
graças a um morador, um senhor já de idade avançada, pai e avô,
que sentindo uma forte dor de barriga e ciente da necessidade de
se " aliviar", dirigiu-se, sonolento, à privada. Passava das duas horas
da madrugada e a privada em questão era no fundo do quintal, o que
se chamava de " casinha ", pois se constituía de um cômodo pequeno
uma porta rangente, um vaso com descarga à mão, geralmente um
balde com água já ficava ali de plantão, telhado de zinco, e sempre,
próximo de bananeiras. Pois o nosso herói, assim que arriou o calção
e sentou-se para o oficio, sentiu a casinha tremer e água subindo
pelas canelas. Levantou-se, gritando pro mundo ouvir: ENCHENTE,
acorda gente que é enchente...
Dado o alarme foi aquela correria. Em poucos minutos a água subia
para as casas e a rua toda, já desperta, tratou de se salvar, indo
para a linha da Central, parte mais alta. De lá assistiram o rio Sabará
engolindo as casas, destruindo tudo, levando as criações. Mas o
prejuízo foi só material. As vidas foram salvas e graças ao nosso
amigo, o que valeu o comentário de um gozador, refeito o susto.
__ Bendita cagada...