O Sapato Apertado
E nesse dia ele acordou sentindo-se desconfortável com o sapato que calçava. Dois números menores que o seu pé, eis o problema. Foi quando percebeu que aquele era o único par de sapatos que dispunha para usar. O chão queimava feito brasas, mas mesmo assim ele insistiu em andar descalço. Sabia dos riscos que corria. Mas decidiu correr. E correu. 1º,2º e 3º graus de queimaduras expostas foi o que conseguiu. Mesmo com os pés em carne viva, estava contente, pois teve a coragem de enfrentar seu medo e se livrar do sapato que o incomodava. Foi quando um som estridente, mais alto que o seus gritos de dor, irrompeu ao seu lado. Era o seu despertador, emitindo seu vigoroso estardalhaço matinal e lembrando-lhe que sua atitude hipoteticamente corajosa não passara de um sonho. Em seus pés ainda jaziam o par de sapatos desconfortáveis que agrediam seus pés, mas pareciam estar presos a eles tais quais grilhões. Fechou os olhos novamente e voltou a dormir, na esperança de acordar novamente e deparar-se com uma realidade menos desoladora e decepcionante.