MEU AVÔ E SEU RÁDIO
Muitas vezes é dito que as ondas do rádio são mais rápidas do que da televisão. Acredito que meu avô sabe muito bem disso, vive inseparavelmente com seu rádio. Meu avô é um homem antigo, um garotão de 90 anos de idade, lúcido, se vira muito bem, tem um pouco de surdez que o atrapalha, mas, juntando tudo, passa ainda muita vida. Esta crônica nasceu de uma atenção dada, meu avô estava na cadeira escutando o seu rádio, silencioso, queria ouvir mais notícias de última hora, canções antigas, comentaristas da velha guarda, em fim, o que é antigo, ainda sobrevive. Ele gosta de Tv, mas o rádio é a sua apreciação, é uma amizade de muitos anos. O rádio é um objeto, mas o que está por trás desse objeto? Entrando em nossa intimidade, temos os nossos "rádios", nosso objeto que posso chamar de: Nosso jeito de ser, aquilo que guardamos na caixa da saudade, no armário, no qual só nós que temos as chaves. Não quero entrar em detalhes, mas cada um sabe o que estou falando, ficamos silenciosos em alguns momentos, mas o nosso "rádio" fala à toda hora. Se o "rádio" é velho ou novo, não importa, são coisas que sempre carregamos. Não sei se meu avô entende tudo no que se diz no rádio, creio que nem ele se importaria, só quer está envolvido, sentindo, viajando nas ondas das antigas e novas lembranças. O que ele ver quando ouvi o rádio?