Longe de Casa
Muitos jovens saem do conforto de seus lares em direções, às vezes, desconhecidas. Alguns procuram oportunidades de empregos, outros procuram por aventuras, novos ares, novas culturas, outros, ainda, saem apenas para estudarem, ou, dependendo do caso, tentarem.
Acostumei-me com o conforto da casa de meus pais, às regalias de não ter que me preocupar com a roupa suja, com a casa ou com a comida e ao sair de casa, supostamente, para estudar, deparei-me com inúmeras dificuldades. Minha terra natal não oferecia condições para que eu prosseguisse com meus estudos, então, mudei-me para São Luís – MA.
Após ter tentado morar em vários lugares e com pessoas diversas, fiquei em um ‘apertamento’ com um ‘amigo das antigas’. No início, ao contrário do que dizem por aí, tudo são horrores. Nenhum de nós sabia cozinhar, lavar ou passar.
Imagine colocar dois jovens estudantes dentro de um mesmo apartamento e entregar a eles todas as responsabilidades do lar. É o mesmo que deixar um cego em meio a um tiroteio. Inevitavelmente, inúmeros erros acontecerão e muitas histórias poderão ser contadas.
Para amenizar a situação dividimos a mudança em etapas. A primeira etapa era o planejamento, a segunda a instalação e a terceira era adaptação. Durante a etapa dos planejamentos, ao pararmos para pensar nos pormenores da situação, imaginamos o seguinte: Limpar a casa é tarefa, embora enfadonha, razoavelmente fácil. Lavar as roupas nenhum de nós sabíamos, mas poderíamos resolver comprando uma máquina de lavar. Mas e a comida? Se tivéssemos dinheiro para, todos os dias, comer em restaurantes, estaríamos salvos, mas como não tínhamos, a única saída era aprender a cozinhar.
Não demoramos em fazer os primeiros testes. De início dividimos as comidas em duas grandes categorias: as comíveis e as ‘incomíveis’. Os nomes das categorias se auto explicam. Definimos como comidas comíveis todas as comidas que pelo menos um de nós conseguisse comer, por sua vez as ‘incomíveis’ eram todas as que ninguém conseguiria comer. Não preciso nem dizer que a maior parte do que saia do laboratório (chamávamos a cozinha assim por ser um recinto, para nós, de muitos experimentos) era classificado como ‘incomível’. Se tentávamos fazer arroz, este parecia sopa, já a sopa parecia qualquer coisa menos sopa. Num dia tudo teimava em sair salgado, no outro tudo era, pra compensar, insosso. Até o ‘bife do olhão’ era tarefa extremamente dificultosa para ser executada, quando conseguíamos colocar o sal o ovo queimava, quando nos preocupávamos em não deixá-lo queimar este vinha sem sal. As façanhas são tantas que não consigo coloca-las no papel. Se fosse possível definir em uma única frase todas as aventuras que aconteceram no laboratório do ‘apertamento’ essa frase seria: Às vezes nos preocupamos tanto com o mundo, com outras culturas e ficamos tanto tempo aprendendo coisas que provavelmente jamais precisaremos que esquecemos de nos preocupar com coisas simples, necessárias para o dia-a-dia.
Então, não perca tempo e tente, enquanto ainda dá tempo, aprender a utilizar os utensílios da cozinha e saber preparar o mínimo para não passar fome, pois um dia você pode precisar.