RESTA O AMANHÃ

Torre Eiffel, logo ali, a poucos metros. E ela estava maravilhosamente envolta pelo brilho do Astro-Rei, gritando por atenção, para ser fotografada, admirada, embevecendo, encantando. Foi impossível não fotografá-la, não gastar minutos deitando olhares sobre sua imponente beleza. Sentamo-nos sobre um banco em silêncio, vendo as pessoas se encantando com esse ícone de Paris, algumas correndo, tomadas pela agitação do momento, e todos fazendo as mais absurdas e ridículas pose para aparecer na foto junto com a Eiffel.

As pequeninas poças formadas pela chuva fraca da noite-madrugada anterior haviam-se transformado em pedaços de gelo que mais pareciam fragmentos de vidro jogados por alguém. Estavam por todos os lugares do Campo de Marte, não havendo como os passarinhos matarem a sede. Pisávamos sobre eles e ouvíamos um barulhinho crocante quando se quebravam, de repente um sujeito entendeu de, afoito, caminhar sobre um dos espelhos e levou uma grande queda após escorregar em sua superfície. Acompanhada de uma mulher, talvez a namorada ou esposa, ele se levantou branco de vergonha, passou as mãos nas nádegas, ela o ajudou de algum modo, disse-lhe algo, ambos sorriram e se foram, passando em frente ao banco onde estávamos sentados.

Muitos aproveitavam o dia ensolarado para brincar com seus animais de estimação, jogando bolas ou outros brinquedos para vê-los correr em disparada e voltar felizes trazendo o brinquedo na boca, que jogavam aos pés de seus donos e faziam festa balançando o rabo, brincando, saltando sobre eles todo festivo e alegre, recebendo por fim o afago e o reconhecimento tão almejado por seus instintos. Em outras direções, atletas amadores praticavam jogging, um deles em especial usando apenas uma bermuda e camiseta naquele frio de congelar o próprio sol. O tal sujeito ousado dava saltos de impaciência e angústia a cada corrida, naturalmente sofrendo os rigores da temperatura negativa.

Deixamo-nos levar pelo tempo e pelo momento, ali sob a grandiosidade da Torre Eiffel, do Campo de Marte, do sol brilhoso, da temperatura de congelador, das pessoas brincando com seus cachorros, até que ficou insuportável continuar sentado e decidimos deitar o olhar uma vez mais, para guardar de forma perene na lembrança essa imagem única existente somente em Paris. Nosso passeio final, os últimos instantes por essas plagas tão diferentes de nosso país de origem, nos deixam tristes, cabisbaixos. É quase hora de voltar, resta apenas olhar mais um pouco tudo em derredor, as cafeterias, as praças, os parisienses e seus gestos, as lojas luxuosas, os carrões caros passando nas ruas, os milhares de cigarros acesos nos lábios dos fumantes inveterados, os mendigos esquecidos na frieza das calçadas, a vida seguindo seu curso nesse lindo pedaço da Europa.

Para nós, a iminência de retomar nosso passeio internacional, visitar outros países nos esperando, o ritmo da saudade já iniciando seus passos, a ânsia de poder, ao menos, fazer o tempo parar nem que seja por instantes, que o amanhã não venha logo, que ainda sejam suficientes, as horas que faltam, para vivermos mais de Paris, mesmo que já estejamos aqui há um mês e tenhamos andado por praticamente todos os caminhos de seus perímetro urbano. Mas, se uma vida inteira não é suficiente para conhecer e amar tanto Paris, imagine meros trinta dias, mais ainda no período invernoso quando o frio magoa, fere, ataca sem piedade. Voltamos para o apartamento a fim de dar os derradeiros retoques na bagagem.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 20/01/2013
Código do texto: T4094208
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