Sala de espera

Estava sentada, cronometrando quanto tempo ainda ficaria ali esperando pra ser atendida. Na TV de 14’’, que mais na verdade é um bullying contra nós míopes, passava um filme infantil, ao que me parece. E, se já não bastasse a demora, a sala era um cubículo, o que me permitia olhar para a mesma parede, os mesmos quadros, ainda mais vezes, condenando-me em minha tediosa monotonia. Foi então que a vi entrar. Estava diferente. Os cabelos, nunca havia visto mais longos. Os sapatos, eram agora scarpin, de uma marca que eu sei ser de grife.

Talvez houvesse umas sete pessoas na sala de espera, contando comigo. Ela não se demorou com a recepcionista. Eu observava cada passo (esse é o castigo do ócio aos mais observadores) E logo foi se sentar. O banco? Ao meu lado... E eu não parava de observá-la. Não que quisesse, mas não conseguia parar. Fiquei esperando que ela também me olhasse, de forma que eu pudesse apenas cumprimentá-la. É verdade que gostaria de muito mais do que isso. Imaginei quanto tempo não nos víamos, quanta coisa eu gostaria de lhe perguntar. Eu ainda a fitei por mais alguns instantes. E nada.

Vagamente algumas lembranças foram surgindo, alguns detalhes tornavam-se próximos, concretos. Lembrei-me, inclusive, de uma fobia que ela adquirira na infância: medo de chuva. Por um breve momento, senti saudades, saudades daquela antiga garota. Olhei pela última vez... E nada.

É engraçado como as pessoas mudam com o tempo. Engraçado como você a reconhece mesmo que não tenha mais cabelos curtos nem que use all star. A pena? É que talvez ela não mais se lembre de você... Ou apenas finge não lembrar. No fim das contas, não sei dizer o que é pior.

(Em agosto de 2012)

Por Jéssica França
Enviado por Por Jéssica França em 19/01/2013
Reeditado em 06/11/2015
Código do texto: T4093648
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