Feliz Dia dos Filhos

Feliz dia dos Filhos

No próximo domingo é o Dia das Mães, depois vem o Dia dos Pais, o Dia da Crianças, o Natal... e onde fica o Dia dos Filhos?

Aquela data única para comemorarmos a existência destas criaturinhas, que chegam fazendo desordem, nos roubando o sono, inquietando a alma com um medozinho inconfessável, nos ensinando a existência de um amor tão diferente e tão maior de tudo o que já sentimos?

O Dia dos Filhos deveria ser aquele onde sentaríamos em torno da mesa para lembrarmos de suas travessuras, para contarmos o que não puderem reter na memória, para olharmos álbum de "fotos de verdade"; um dia para sermos, especialmente, menos "autoridade" e mais "companheiros".

São os filhos que nos validam como mães, crescendo de forma rápida, marcando uma passagem definitiva pela nossa andança, nos levando de volta à infância , a colar figurinhas em álbuns, a comer algodão doce, a assistir desenhos, a chorar junto quando levam o primeiro grande tombo. Através deles, nosso olhar adulto consegue enxergar com a ingenuidade e a curiosidade de uma criança, e isto é divino!

O meus filhos agora adolescem dia a dia, começam a ter gostos próprios, a ficar menos flexíveis, a formar opinião. Os amigos assumem um papel maior do que qualquer um de nós gostaria que tivessem, e já não seguram mais a nossa mão no shopping, já não fazem mais tanta questão da nossa companhia e a internet se torna detentora das suas maiores verdades, nos forçando a lidar com um inimigo virtual.

Se eu disser que este processo é indolor estarei mentindo, sobra uma certa solidão neste momento; aquela demanda por atenção e companhia que tinham - e que ás vezes nos sufocava - agora vai embora e nos ensina, com um certo pesar, que é preciso deixá-los crescer.

Sempre tento ir ao universo deles, adoro quando enchem a casa de amigos, quando me falam sobre os passeios, os dramas pessoais, a escola, quando me traduzem seu novo vocabulário com exagerada sabedoria, como se nós, ledo engano, soubéssemos menos da vida!

Meus filhos não são prodígios, não tocaram Bach com dois anos de idade nem sabem a capital de todos os países do planeta, mas agradeço a Deus a normalidade deles, a doçura, a afetividade, a lembrança de usar "obrigado', "por favor", "desculpa" num exercício de respeito ao outro, agradeço os tantos telefonemas ao longo do dia mesmo que seja para discutir os assuntos mais inacreditáveis do mundo.

Meu filho de 15 anos já me põe no braço, engrossa a voz, já não se interessa mais pela coleção de carrinhos, que pena! Minha adolescente de 13 está apaixonada por um cantor "teen", menos mal, ele vive na TV e no notebook, o que mantém meu coração ainda sem sobressaltos.

Eles crescem sem a minha permissão, mudam sem que eu me dê conta, deixam ir embora gestos e atitudes que eu adorava, mas trazem outras, sem pedir licença, sem me avisar, sem preparar o meu desejo escondido de vê-los menos independentes. Quanto ao medo de que sofram, creio que este é perene, é umbilical.

Meu filho, toda noite ao ir deitar, me chama para cobri-lo, levar-lhe um copo com água e dizer: Durma com Deus, mãe. Uma pequena inversão de papéis que sempre me emociona de uma forma inexprimível. Minha filha sempre corria para me abraçar ao barulho da chave na porta, mas agora tem um programa de TV no meu horário de retorno, que me rouba este prazer. Que concorrência injusta! Então não me dou por vencida e grito: cadê aquela menininha que vinha abraçar a mãe? Então ela vem correndo e qualquer dia destes me jogará no chão, julgando pela sua altura!

As coisas mudam e nós temos que mudar junto, não posso ir de encontro da realidade deles, salvo se isto trouxer riscos ou comprometê-los quanto à formação de caráter.

Há momentos que os nossos desejos se confundem com os deles, mas noutros não, então, é preciso apelarmos para maturidade que temos a mais e combatermos o egoísmo de querê-los mais para nós do que para o mundo, mesmo que o façamos indolentemente.

O que peço a Deus, no Dia dos Filhos, é que eles possam fazer suas escolhas com sabedoria, que nunca deixem fragilizar os valores e a dignidade que tentamos ajudar a formar, que tenham bons amigos, que aprendam a levantar quando as quedas inevitáveis cruzarem o caminho, que tenham capacidade de construir uma vida confortável, que amem e sejam amados e que acima de tudo, sejam felizes, não importa as escolhas que façam.

O que quero dar-lhes, como mãe, de forma inegociável, é a certeza de que são amados, muito amados, porque esta estima é balizadora para todo o alicerce que vão construir em volta de si mesmos. É com esta garantia, de um lugar para voltar, que vão ser pessoas seguras, que vão respeitar a si e aos outros, que vão construir discernimento e fazerem-se altruístas, que vão ajustar os caminhos a seguir.

Mãe é proparoxítona, extensa e plural por si só, cuidadora eterna da semente que gerou, laço de amor que nem a última despedida consegue apagar! Feliz dia das mães! Feliz Dia dos filhos!

Denise

03/05/2011