O EXEMPLO DE MEUS AVÓS
Caminhava entre as prateleiras do supermercado, sem pressa. Obsevar é uma das coisas que mais me apetece. Sempre fui muito observadora, desde pequenina. Esse hábito cresceu junto comigo e se expandiu com o passar dos anos. Tantos produtos a disposição de minhas mãos nas centenas de estantes do mercado. Difícil decidir por algum. Pensei em levar um creme de amendoim, tão comum por aqui. Essa simples vontade, rendeu-me uma dezena de rótulos diferentes à minha frente. Sem contar, a máquina com amendoins de várias procedências pronta a ser ligada por meus dedos, e triturá-los na hora, para obter assim, uma pasta de amendoim fresca.
Decidi-me pela pasta feita na hora, apertei o botão e enquanto a pasta escorria apetitosa para dentro do pote, lembrei-me do armazém do meu avô, na pequena vila em que passei minha infância. Nele não havia mais que umas vinte prateleiras, além de grandes caixas de madeira que acomodavam, o arroz, feijão, açucar, farinha, todos soltos, e vendidos por quilo. Adorava ver a habilidade que meu avô mostrava ao colocar em sacos de papel de cor parda, os alimentos e pesá-los na balança da marca Filizola. Uma relíquia, hoje em dia, elas, são raras.
Junto com essas lembranças corriqueiras, vieram as mais importantes: a bondade de meus avós, que nunca deixaram de ajudar um semelhante que lhes batesse à porta. Cansei de ver minha avó, atender as mulheres que batiam palmas em seu portão, segurando um filho no colo, outro no ventre, e dois agarrados ao vestido. Crianças magras, mãe de olhar sofrido, minha avó as colocava em sua área, fazia com que sentassem, no banco longo de madeira que havia, lhes servia um café com leite, pão manteiga, bolo de fubá que sempre tinha em nossa cozinha. Eu ficava hipnotizada vendo como comiam com vontade, tamanha era a fome daquela pobre gente. Minha avó, nessa hora me chamava, para ajudá-la a arrumar a sacola vazia, que tomava das mãos da pobre mãe. E lá no interior da cozinha, ela ia colocando os alimentos na surrada sacola: arroz, feijão, açucar, café, banha de porco, algumas linguiças feito em casa, e o que mais tivesse.
A sacola saia da cozinha, repleta de alimentos. Via minha avó colocar a sacola sem alarde, ao lado da mulher sofrida, que lhe agradecia sempre com lágrimas nos olhos. Essa e tantas outras que passavam por seu portão semanalmente.
Para cada uma, minha avó tinha reservada sua cota de ajuda, nunca vi ninguém sair do armazém de meu avô ou do portão da casa de minha avó, de mãos ou estômago vazios.
O exemplo calou fundo em mim, pois foi vivendo essa caridade simples desde minha infância, que mais tarde adentrei o caminho do voluntariado, no qual estou há mais de 30 anos. Devo a esse trabalho em prol ao meu semelhante a melhor de todas as escolas que eu possa ter cursado na vida, ele ensinou-me na prática o que nenhum curso jamais teria condição de ensinar-me.
Débito ou credito? Despertei de meus pensamentos, era a sorridente moça do caixa a me perguntar a forma de pagamento.
Pelo caminho enquanto carregava minhas duas sacolas de compras, aquelas sacolas surradas, das pobres mulheres da vila, parece que dançavam à frente dos meus olhos, recheadas da bondade imensa que ia no coração de meus avós.
(foto da autora)
Caminhava entre as prateleiras do supermercado, sem pressa. Obsevar é uma das coisas que mais me apetece. Sempre fui muito observadora, desde pequenina. Esse hábito cresceu junto comigo e se expandiu com o passar dos anos. Tantos produtos a disposição de minhas mãos nas centenas de estantes do mercado. Difícil decidir por algum. Pensei em levar um creme de amendoim, tão comum por aqui. Essa simples vontade, rendeu-me uma dezena de rótulos diferentes à minha frente. Sem contar, a máquina com amendoins de várias procedências pronta a ser ligada por meus dedos, e triturá-los na hora, para obter assim, uma pasta de amendoim fresca.
Decidi-me pela pasta feita na hora, apertei o botão e enquanto a pasta escorria apetitosa para dentro do pote, lembrei-me do armazém do meu avô, na pequena vila em que passei minha infância. Nele não havia mais que umas vinte prateleiras, além de grandes caixas de madeira que acomodavam, o arroz, feijão, açucar, farinha, todos soltos, e vendidos por quilo. Adorava ver a habilidade que meu avô mostrava ao colocar em sacos de papel de cor parda, os alimentos e pesá-los na balança da marca Filizola. Uma relíquia, hoje em dia, elas, são raras.
Junto com essas lembranças corriqueiras, vieram as mais importantes: a bondade de meus avós, que nunca deixaram de ajudar um semelhante que lhes batesse à porta. Cansei de ver minha avó, atender as mulheres que batiam palmas em seu portão, segurando um filho no colo, outro no ventre, e dois agarrados ao vestido. Crianças magras, mãe de olhar sofrido, minha avó as colocava em sua área, fazia com que sentassem, no banco longo de madeira que havia, lhes servia um café com leite, pão manteiga, bolo de fubá que sempre tinha em nossa cozinha. Eu ficava hipnotizada vendo como comiam com vontade, tamanha era a fome daquela pobre gente. Minha avó, nessa hora me chamava, para ajudá-la a arrumar a sacola vazia, que tomava das mãos da pobre mãe. E lá no interior da cozinha, ela ia colocando os alimentos na surrada sacola: arroz, feijão, açucar, café, banha de porco, algumas linguiças feito em casa, e o que mais tivesse.
A sacola saia da cozinha, repleta de alimentos. Via minha avó colocar a sacola sem alarde, ao lado da mulher sofrida, que lhe agradecia sempre com lágrimas nos olhos. Essa e tantas outras que passavam por seu portão semanalmente.
Para cada uma, minha avó tinha reservada sua cota de ajuda, nunca vi ninguém sair do armazém de meu avô ou do portão da casa de minha avó, de mãos ou estômago vazios.
O exemplo calou fundo em mim, pois foi vivendo essa caridade simples desde minha infância, que mais tarde adentrei o caminho do voluntariado, no qual estou há mais de 30 anos. Devo a esse trabalho em prol ao meu semelhante a melhor de todas as escolas que eu possa ter cursado na vida, ele ensinou-me na prática o que nenhum curso jamais teria condição de ensinar-me.
Débito ou credito? Despertei de meus pensamentos, era a sorridente moça do caixa a me perguntar a forma de pagamento.
Pelo caminho enquanto carregava minhas duas sacolas de compras, aquelas sacolas surradas, das pobres mulheres da vila, parece que dançavam à frente dos meus olhos, recheadas da bondade imensa que ia no coração de meus avós.
(foto da autora)