Crônica Platônica
Era mais uma noite de chuva, tão constante em sua vida. E o frio gelado desse inverno, não a deixava parar de pensar em si mesma. Aquela chuva sempre servia de alerta para que ela reavaliasse seus rumos, redirecionasse seus caminhos e deixasse para trás tudo o que nunca foi dela. Os olhares, os beijos, os carinhos, os impossíveis finais felizes que não conseguia deixar de desejar. Mas ela sequer percebia, seguia na sina de amar quem não a tinha em propósitos. E ficava a imaginar os braços quentes, o conforto, as juras de amor jamais feitas, tudo para fugir do frio da solidão. Não fazia amigos, não criava relações saudáveis, não dava ouvidos a quem poderia realmente lhe completar. Era uma garota má, perdida em seu mundo de fantasias e amarguras. E nada lhe fazia notar que aquele tempo preguiçoso lhe trazia cansaço, e que aquele tempo seria cruel com ela, enquanto seu "amor perfeito" estava a curtir o frio com uma bela companhia. O desejo que sentia em esperar que algo acontecesse era maior que a realidade. A atraia. A prendia. A fazia querer viver "o que poderia ter sido". Era como um labirinto que se fechava. A deixava sem armas para lutar, sem imunidade contra as "possibilidades impossíveis". Uma droga doce que havia lhe tomado conta, em meio a uma realidade que não tinha coragem de enfrentar. A realidade de que teu amor, não a conhecia, não compartilhava de sua vida, nem a escolheria se tivesse a opção. Assim, continuava se virando em lençóis de cetim, ouvindo as mesmas canções de paixões perdidas, achando que o vinho poderia acertar tudo, imaginado como seria a vida com seu "amor perfeito" enquanto o mesmo realizava a sua ao lado de alguém real.