O VESTIBULAR

No último final de semana fui levar minha filha número quatro para prestar o vestibular. Ela insiste em fazer o curso de letras na UNB, e tem todo o meu apoio, por ser muito jovem, apenas 16 anos. está com esperanças de passar e, ainda, “corre por fora” com o PAS, está aguardando as notas, quem sabe com uma bela ajuda de Deus consiga. Porém, se não conseguir não será o fim, pode ainda tentar outras universidades particulares, nessas não precisa ter estudado com tanto afinco, muito menos sorte, precisa ter apenas dinheiro e começar a estudar, é a realidade.
Bem lembrado, há alguns anos conheci uma história mais que engraçada, em uma certa cidade se instalou uma universidade que era a febre daquele momento, todos os não capacitados para o vestibular da universidade pública poderiam ali se socorrer, virou a moda da elite. Muitos cursos oferecidos e aqueles que se achavam com o intelecto privilegiado poderiam se inscrever para o mais desejado dos cursos, Direito.
Um amigo, gerente de banco preocupado com o futuro do seu irmão pediu que o mesmo se inscrevesse no vestibular e fosse estudar economia, se ele entrasse na faculdade já poderia empregá-lo no banco. Para dar aquela força ao irmão também se inscreveu no mesmo curso. No dia marcado do vestibular esqueceu, lembrando-se somente dois dias depois. Ligou para o irmão e o questionou recebendo a seguinte resposta: “fui lá e fiz o vesti se passei não sei.” Como irmão mais velho e preocupado foi até a instituição verificar o resultado. Lá chegando pegou o comprovante de inscrição na carteira e entregou a senhora da secretaria. Por descuido, entregou os dois comprovantes, o dele e do irmão.
Após alguns minutos recebeu a seguinte resposta da atendente: “passaram os dois, basta trazer essa lista de documentos e vir fazer a matrícula.” Meu amigo deu um sorriso e foi embora. A caminho de casa ia se esbaldando de rir, incrédulo, enojado, como passou se nem fizera o vestibular? Decidiu então deixar seu irmão como mecânico mesmo, quem sabe, deveria melhorar as instalações da simples oficina, melhor que estudar numa dessas “universidades” pagas.
Na mesma instituição um “radialista” que no passado se envolvera com a compra de um diploma fez sua inscrição para prestar o vestibular, e ainda levou de reboque sua esposa, uma coitada que vez ou outra era achincalhada em público pelo próprio marido. Ainda recordo no dia que ele a questionou sobre com qual estado brasileiro o Chile fazia fronteira, ela respondeu que com o Paraná. Foi um deboche geral.
Mas ele também não era lá essas “coca-cola,” pois nunca havia estudado e conseguiu seu diploma de nível médio sob suspeita, pois fez apenas uma prova e obteve o documento, segundo ele, foi beneficiado por uma lei estadual.
Mas considerando o nível da universidade, haja vista o caso anteriormente narrado não seria diferente, salvo se já estivesse comprometida todas as vagas. Pro azar dos vestibulando, estavam, e como a procura era grande para o curso desejado não havia outro jeito, teriam que gastar uma grana, se quisessem passar, caso contrário o que mais havia era clientes interessados nas vagas.
O “radialista” não pensou duas vezes, meteu a mão no bolso e pagou sem dó, afinal estava contratando o seu futuro. Já que na universidade pública não passaria para o curso de confeiteiro, se tivesse. Usando de todas as artimanhas conseguiu se formar, quanto a qualidade do seu aprendizado só testando para se saber. No final do curso ele costumava se gabar dizendo que durante os cinco anos nunca levou sequer um caderno para a sala de aula, não havia nada que o professor ensinasse que ele não soubesse, o cara foi o cara durante o curso, acredite se quiser.
Ainda bem que, se esse ou aquele mau elemento, infiltrado, consegue ludibriar a todos de uma instituição de ensino e se formar sem nem estudar, não é uma regra, mas uma exceção. O que deve ser combatido, inclusive, pelos próprios alunos.
Não se pode também generalizar com as universidades particulares, desacreditá-las por completo, se minha filha não passar no vestibular da federal e quiser fazer uma faculdade na particular eu apoiarei, mas cobrarei dela uma postura condizente com sua futura profissão, acima de qualquer coisa que seja ética durante o curso, cumprindo seus deveres, respeitando os mestres, e elevando o conceito da instituição.
Mas vou esperar o resultado ansioso da federal, afinal de contas quero ver o quarto filho formado, espero que o vestibular seja piedoso.