DIÁLOGO URBANO, A PRESSA.

Que confusão em minha mente! Vejo uma grande multidão, pessoas correndo de um lado para o outro. O que será que está acontecendo? Por que tanto desespero, será que estão atrasados ou simplesmente não sabem a direção? Quem sabe eu possa ajudar, mas acho que não vai dar, vestido assim maltrapilho ninguém vai me dar atenção, vão me ignorar. Não importa, vou tentar mesmo assim.

Lá vem aquele moço de terno, deve ser alguém importante, vou abordá-lo.

- Moço! Moço!

- O que você quer? Não tenho dinheiro!

- Não moço, eu não quero dinheiro, só quero um pouco da sua atenção.

- Estou atrasado! Tenho mais o que fazer.

- Tá bom, me desculpe.

É, acho que ninguém vai me dar atenção, queria tanto saber o que está acontecendo, o porquê de toda esta agitação e, quem sabe eu não poderia ajudar?

Vou tentar outra vez, vou abordar aquela senhora, ela me parece muito educada.

- Moça! Moça! Por favor, pode me dar um pouco de sua atenção?

- Vai procurar o teu lugar malandro! Não vês que estou com pressa?

- Nossa! E eu que pensei que ela fosse educada.

Não vai dar, ninguém vai querer falar comigo. E se eu pusesse uma roupa melhor? Quem sabe assim, falariam comigo! Mas, e o banho? Onde vou tomar um banho? Não vai dar, é melhor desistir. Mas, e essa tal de pressa, é tão importante assim? Quero entende-la. Vou tentar pela ultima vez.

- Moço! Moço!

- Sim filho, o que você deseja?

- O senhor é deste mundo mesmo?

- Não entendi, por que me perguntas isso, pareço não ser?

- É... que já tentei falar com várias pessoas e todas me ignoraram dizendo que estavam com pressa, porém o senhor, além de me dar atenção, ainda me chamou de filho.

- Não se preocupe, eu sou deste mundo sim, embora não concordando com ele, mas sou.

- Mas por que o senhor não está com pressa como as outras pessoas? Ela não é importante para o senhor?

- Olha filho, mais importante do que a pressa é saber aonde vai chegar e o que vai fazer quando chegar. As pessoas correm desesperadas sempre achando que estão atrasadas, quando muitas vezes não sabem nem aonde querem chegar e porque chegar.

- Não entendi bem, porém, não quero lhe atrasar. Obrigado pela atenção, isso foi muito importante para mim.

- Não tem do que agradecer filho, eu é que agradeço por me dar a oportunidade de conversar com você.

- Você já almoçou?

- Não. Hoje eu não pedi dinheiro, só queria ser ouvido por alguém, foi muito difícil, quase que desisti. O senhor seria a ultima tentativa.

- Que bom que você não desistiu, insistiu até o fim. Se você não tivesse tentado mais uma vez, teria sido mais uma vítima da pressa. Falando em pressa... já são 13:30hs da tarde e assim como você, eu também ainda não almocei, vamos almoçar comigo?

- Assim... do jeito que estou, o senhor almoçaria comigo?

- Sim, assim do jeito que você está, vamos?

- O senhor está com pressa? Não disse que ela não é importante?

- Bem... eu disse que há vezes que ela pode ser ou não importante. Neste caso... acho que é importante sim, pois sei onde quero chegar e o que quero, que neste caso é saciar minha fome. - Mas, falando em fome... qual é sua fome?

- Como assim?

- Você tem fome de que?

- A minha fome é de justiça social, um mundo mais amigável uns com os outros. Um mundo onde o interesse maior seja o bem estar mútuo, onde as pessoas se ajudem, se abracem.

- Muito bem filho! Isso seria muito bom mesmo, apesar de quase impossível. Mas continuemos fazendo nossa parte.

- Agora vamos almoçar?

- Vamos sim.

Josildo S Neves