UMA TARDE, UM CAFÉ, ROSANA E FÁTIMA....

Numa tarde dessas, não tarde demais, sentados a mesa de madeira na cor escura, tom de imbuia, confortavelmente acomodados em cadeiras no mesmo estilo, víamos pelas grandes janelas da casa, a paisagem rural das montanhas verdes que rodeiam o rancho “conquista”. Em nossos pés, acomodadamente relaxados, encontravam-se Quico e Tuti, os cães da raça Cocker, que tem como hobby correr atrás das borboletas que tentam, sem muito sucesso, pousar nas flores do jardim no auge da primavera. A mesa forrada com uma toalha de percal, delicadamente desenhada, acomodava solenemente pães, bolos e um café de aroma inconfundível, característico daquele, passado em coador de pano, no estilo caipira.

Nesse cenário aprazível, encontrava-se, entre amigos, Fátima. Descendente de portugueses, formada em Direito pela Faculdade Estadual de São Paulo, trocou a profissão de Advogada pela fotografia. Sua sensibilidade artística e seu desejo de fotografar se sobrepôs aos desafios da profissão de advogada, fato este que por si só, faz de Fátima uma pessoa extremamente decidida, madura, agradável e extremamente interessante de se ouvir. Dona de histórias ímpares envolvendo os cenários das aldeias portuguesas tem o dom de descrevê-las com tanto realismo e humor que nos remete ao cenário ricamente descrito, se não como protagonistas, certamente como expectadores ativos de suas narrativas.

Entre um café e outro, em meio ao sabor de pães e bolos, lá está Fátima, nos contando suas passagens pelas aldeias luzitanas, e sua intimidade com a burocracia característica dos portugueses nos dando a certeza de que a burocracia e as dificuldades, no âmbito da administração pública, certamente foram inventadas pelos portugueses e nós, pobres brasileiros, fomos os destinatários desta herança secular. Entre uma história e outra um café e um pedaço de bolo, regados a muito riso e descontração fazendo das tardes do rancho “conquista” uma das maravilhas da Nova Suíça.

Despojadamente e sempre boa anfitriã, entre a sala de jantar e a cozinha, vez ou outra se vê desfilar Rosana. Poeta, escritora e amante das letras têm uma invejável disposição em fazer daquele momento ímpar uma sessão especial onde a maior preocupação é em manter o café quente, os pães levemente aquecidos e os frios ordenadamente arrumados sobre a mesa. Horas se passam e os assuntos e estórias não terminam. Diria que o tempo passa rápido demais e o relógio de parede vez ou outra dá sinais de mais uma hora vivida em seu simpático toque imitando o canto dos pássaros. É chagada a hora de partir. É preciso ganhar coragem para encarar uma ladeira de pedras, ladeada de frutos que serve de caminho até minha casa onde me esperam Tati, Gorda e Chico, meus adoráveis cães e inseparáveis companheiros, e claro repousar-me sem, contudo, esquecer da tarde maravilhosa com Rosana e Fátima.

Luis Cesar Barão
Enviado por Luis Cesar Barão em 17/01/2013
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