CHAME LOGO OUTRA PESSOA!

Odete estava tendo um daqueles dias em que gostaria de não ter saído da cama, do tipo, “parem o trem que eu quero descer”. O marido pediu para que pagasse contas urgentes, o carro estragou, problemas com o interfone do prédio para resolver, o gás acabou, precisava ir ao sacolão, a sogra ligando para reclamar de alguma coisa, como sempre. Para aumentar a contrariedade teria que buscar o filho de seis anos na escola, pois as aulas foram suspensas por falta de água. Isso a obrigaria levá-lo à sua consulta médica, marcada já há algum tempo.

Atrasada pegou o garoto e dirigiu-se apressadamente à clínica. Teve uma péssima surpresa, a sala de espera estava cheia. Sentou-se agoniada imaginando quanto tempo ainda ficaria ali, com tantas pendências para dar conta até o final do dia.

Depois de vinte minutos a secretária lhe chamou para preencher a tradicional ficha de dados. Sucederam-se as perguntas: nome, idade, estado civil, endereço... Puf! Deu um branco maior que o do Omo multiação na cabeça de Odete. Meu santo! Qual é o nome da minha rua? Pensou fazendo grande esforço.

Constrangida pediu desculpas, inventou que não conseguia lembrar, pois havia se mudado recentemente. A secretária muito gentil respondeu que isso era normal acontecer, atenderia outro paciente para lhe dar um tempo.

Revirou sua bolsa, procurou por alguma pista. Nada! Pensou em ligar discretamente para o marido. Não achou o celular. Nisso a atendente volta e pergunta se já havia se lembrado. Respondeu que ainda não e escutou risadinhas às suas costas. De novo foi-lhe dado mais um tempo.

Odete já extremamente exausta, nervosa e envergonhada, teve uma ideia. Chamou o menino e perguntou-lhe: “Filho, diga para a mamãe onde é que a gente mora...”. A resposta veio tão imediata quanto às gargalhadas generalizadas.

Em fim, sentindo-se no limite do stress, conseguiu dar a informação. Assim que acabou de anotar a secretária perguntou qual era o CEP. Foi o suficiente para ela entornar, perdeu todo o controle. Agarrou a moça e gritou:

“VOCÊ É DOIDA! TEM PROBLEMA!

GASTEI MEIA HORA PARA TE DIZER O NOME DA RUA E AGORA QUER SABER O CEP?”

Neste momento o médico abre a porta do consultório e chama por seu nome. Como ninguém se levantou, desvairada esbravejou:

“ NÃO ESTÁ VENDO QUE ESTA PESSOA NÃO VEIO? CHAME LOGO POR OUTRA!”.

É, situação que não dá para saber de quem se tem mais dó...